quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Mais uma Página do Diário Aberdeenense – As Instalações

Peripécias de uma Brasileira Perdida na Velha Escócia


Por contrato, a empresa que me trouxe a este lado do mundo comprometeu-se a fornecer-me moradia e transporte nas locações a que me subordinarem (não estranhem o plural – pela minha nova condição, sou parte do grupo internacional da companhia, o que significa que posso ser enviada a qualquer lugar da galáxia para trabalhar, bastando para isso que exista petróleo em, por exemplo, Alpha Centauro). Eu sabia então que não teria que dormir na rodoviária da cidade até encontrar um kitnet ou qualquer outra coisa que meu salário pudesse cobrir.
De modo que eu aqui vivo em um belo apartamento de dois quartos, próximo ao centro comercial da cidade, com todos os móveis e eletrodomésticos que preciso, e até uns que não preciso e nem sei como ligar. Essa é a parte boa.
A não tão boa é que eu divido apartamento com uma sueca peituda.
Obviamente isto não foi escolha minha. Se me fosse dada opção, eu iria morar com um dinamarquês tarado. Mas nem tudo que se quer se tem.
Quando cheguei, meu gerente entregou-me as chaves do apartamento. Tá aqui, Jaque, você vai morar com a sueca peituda. Logo pensei, vai ser uma briga boa, “já que” eu sou uma brasileira peituda!
Mas, por graças da genética, da tradição e da paixão nacional, eu não sou apenas uma brasileira peituda, mas também uma brasileira bunduda! Talvez não tanto como outras compatriotas, mas com certeza muito mais que esse povinho que vive acima do Equador e do lado de cá de Greenwich. HA! In your face, big bubs Swedish girl!
A sueca não é má pessoa, embora seja um tanto toalha seca. Cultura setentrional, mais uma vez. Mas é simpática, nós conversamos bastante. Não acho graça de metade das piadas que ela conta, mas rio para ser educada.
Ela nunca retribui o favor, e eu estou começando a me achar a pessoa mais sem-graça do mundo.
Na verdade, alguém tem que explicar para os europeus que os latinos são uns piadistas. Toda vez que eu, ou outro dos latinos, sou irônica ou simplesmente debochada, tenho que acrescentar a frase “I’m kidding/joking”. Senão eles levam a sério e me olham meio de lado.
Também estou tendo problema com esse negócio de “mão inglesa”. Como não tenho carro aqui, achei que estaria longe de ser responsável por algum acidente. Mas começo a rever a possibilidade – toda vez que atravesso a rua, olho pro lado errado. Já ouvi umas 20 buzinadas, e nenhuma foi menção à minha bunda brasileira.
Mas vou sobreviver. Pelo menos até a primeira garrafa de whisky.

Jaqueline Costa
Fazendo de tudo para ser logo promovida e ir morar com um alemão bem-dotado

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ho Ho Ho

Direto da Terra de Papai Noel (ou muito próximo dela)
Desculpem-me os que já haviam se acostumado a receber um diário de bordo a cada viagem, o atraso deste se deveu a duas semanas hard-punk em Paris, Paris!
Pra quem mentalmente me mandou tomar, aviso para deixarem as sugestões inerentes à minha pessoa e à pessoa da minha bunda para fevereiro, quando volto à cidade-luz, para ficar por dois meses mais! Uh la lá!
Paris é realmente maravilhosa, inebriante!
O cheiro dos franceses também é inebriante, mas não exatamente de um modo positivo...
Sobre a noivelle cuisine, é uma enganação! Pra ser sincera, as melhores refeições que tive não se referiram à culinária francesa, mas à espanhola, à árabe e à (mundialmente confiável) italiana.
Mas os vinhos... ah, os vinhos! A benesse do porre sem a aporrinhação da ressaca!
E les Arches d’Triumph, la Torre Eiffel, les Champs Elisées!
A noite parisiense!
Fria pra cara...mba!
Enfim, um desbunde...
E eis que, na sexta-feira, de manhãzinha, dei adeus à França para dizer olá à Grã-Bretanha.
Acho que o Reino Unido não gosta de mim. Estamos meio separados.
Cheguei em Aberdeen debaixo de chuva. O que não chega a ser surpresa, todos os dias, mais cedo ou mais tarde, cai toró. Também descobri finalmente o verdadeiro significado da palavra inverno. Não, meus caros incautos habitantes do Brasil il il, felizes agraciados com um climinha tropical, inverno não é quando nós somos obrigados a usar uma camisa de manga curta em lugar da regata. Não, inverno não foi uma expressão criada pelo governo só pra acabar com o horário de verão e aquela horinha a mais na praia. NÃÃÃÃÃÃÃO.
Inverno é quando o Sol só aparece (ou pelo menos a luz por trás das nuvens) depois das oito da manhã, e quatro da tarde já é noite fechada. Inverno é quando você encontra gelo no chão e não foi sua mãe limpando a geladeira. E pode apostar que meio-dia o gelo ainda vai estar lá! Inverno é quando você pensa que está tendo um ataque cardíaco foderoso, porque consegue ouvir as batidas do seu coração alto e claro – e aí se dá conta de que não é seu coração, são seus dentes!
Mas, quando o frio anestesia os músculos e você se acostuma, aí sim dá pra começar a admirar Aberdeen – com as ruas já decoradas para o Natal, e todas as casas com jeito de idade média, com a sensação de segurança que todos nós merecemos – provada pelas dezenas de BMW’s, Audi’s, Toyota’s e afins que dormem nas calçadas, todas as noites. E com as ovelhinhas caminhando pela grama congelada, os coelhinhos aparecendo entre uma moitinha e outra, os ônibus de dois andares.
E o Papai Noel. Que eu tenho certeza, se não mora aqui, mora perto.
Assim que eu descobrir o endereço certo do velhinho canalha, eu aviso, pra vocês me passarem as listas de presentes.

Jaqueline Costa
Jingle Bells, Jingle Bells, acabou o papel

Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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