A Inexplicável Animosidade Entre Sampa e Eu
Definitivamente, São Paulo não gosta de mim.
Eu sempre desconfiei do fato dado que, em anos e anos de interação, a única coisa boa que eu recebi do estado foi uma irmã Paulixta. Certo que ela compensa, de longe, todas as aguras que passei. Mas a bem da verdade, sua ‘tecnologia de fabricação’ foi trazida de outro estado...
Nas incontáveis vezes que já pisei em solo paulista, 90% delas o tempo estava nublado ou chuvoso. Até aí, Neves, dirão vocês. Afinal, o que esperar de SP senão tempo nublado sujeito a chuvas?
Mas isto não é tudo. Em todos esses anos de alma nômade, as únicas vezes em que minha bagagem se extraviou foram quando fiz escala por São Paulo. Na primeira delas, ainda tive como saldo uma alça quebrada na mala.
O único namoro com um legítimo representante da terra da garoa que tive terminou por total ausência de entendimento: nós nunca chegamos à conclusão sobre quem era o idiota da relação. E aquele suspense me matava!
Agora, em mais uma ingênua tentativa de passar incólume pela capital financeira do meu país, mais uma vez eu fui brindada com essa intolerância invisível, embora quase palpável, de Sampa para com esta escriba.
Primeiro, na breve passagem por lá, a caminho de Santiago, perderam (oh! Surpresa!) minha bagagem. Já conhecedora de todos os procedimentos cabíveis, encaminhei-me ao balcão da empresa aérea, deixei nome e telefone de contato, e segui para o shopping para uma compra emergencial de roupas.
A volta seria mais traumática.
Escala em SP a caminho do Rio. Despacho malas na capital chilena direto para o aeroporto do Galeão/RJ, a fim de economizar tempo e pernas em SP, evitando assim a retirada das malas apenas para despachá-las novamente. Como em Santiago eu recebi os dois cartões de embarque (Santiago-Guarulhos e Guarulhos-Galeão), ao chegar em São Paulo fui direto para o portão de embarque.
Lá me disseram que eu precisava voltar ao check-in da TAM para trocar o boleto.
Ok, lá vamos nós para o balcão da TAM. Já no check-in, e como gata escaldada que sou (aliás, esta é a única forma de me definir como ‘gata’, então eu não vou desperdiçar a oportunidade!), aviso ao tiozinho do balcão que tenho dois volumes que foram despachados em Santiago para o Rio. Para minha surpresa, e a despeito do que tinham me informado em Santiago, ele diz que eu tenho que voltar, retirar as malas, e despachar de novo!
Ai, Jesus, Maria, José e o burrico! Vou ao balcão da LAN – minha passagem era um Frankenstein aéreo. Eu comprei pela Air France, mas voei AF, TAM e LAN – e os funcionários, depois de vários minutos, aparecem com meus pacotes.
Volto ao balcão da TAM para despachar a bagagem. Para quem conhece o aeroporto de Guarulhos, dá já para calcular o quanto esse ir e vir significa em passadas. Se eu tivesse um cartão de fidelidade do aeroporto, já teria milhagens suficientes para voltar de graça para minha casa na Grande Britânia, esta nação fabricante de ventiladores!
Malas entregues e boarding pass trocado, sigo novamente para o portão de embarque. E o tiozinho me pára de novo, para me informar, como se fosse uma novidade muito grande para mim, que eu tenho três garrafas na minha maleta de mão. Sim, três garrafas de vinho, lacradas. As mesmas três garrafas que saíram do Chile, na mesma maleta. De mão.
Do Chile pra SP pode, de SP pro Rio, não.
O paraíba me perguntou se eram garrafas do Duty Free. Não, mas qual a diferença?
Do Duty Free pode.
Ele então me explicou que eu não podia levar na bagagem de mão porque era um embarque pelo setor internacional. Sim, eu disse, mas eu estou vindo do Chile, com esta mesma bagagem de mão, insisti. E ele “ah, é, mas é que aqui é embarque internacional”.
Eu perguntei pra ele em que estado do Brasil ele acha que fica o Chile...
Volto para o balcão da TAM. Peço para lacrar e etiquetar com frágil minha maleta. De volta para o setor de embarque. Embarque às 20:30h, no portão 4A. E estava eu ali, esperando pelo embarque e já pensando nesta página do diário quando, às 20:30h, uma voz avisa de sopetão que, por questões de rearranjo (cósmico, presumo eu), o embarque tinha sido transferido para o portão 11A. E era, obviamente, embarque imediato.
Acelerando minhas passadas em mais um momento fast forward de minha vida, vou conferindo os portões: 7, 8, 9, 10... e descubro também que Guarulhos deve ser o único aeroporto em que o 11 vem depois do 13! ! !
Jaqueline Costa
Não é Paulixta