quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Diário de Estibordo – Página 10

Carnaval em Ritmo de Gaita-de-Foles

A pergunta insólita partiu de uma supervisora: “Jaque, você é católica?”
E agora? Será que existe resposta errada pra isso?
Eu sei que aqui na Escócia o povo não é lá muito religioso, mas vai que a mulher é da Irlanda? O que será que eu devo responder? Se ela não gostasse da resposta, poderia me atacar com um haggis mal-cozido!
Ressabiada, respondo “não... bem... ahn... por quê?” e ela, pasmem, me diz que é que ela gostaria de saber sobre a data de uma festa no Brasil, que é mais ou menos agora...
Gente, ela queria saber quando é o carnaval!
Falei pra ela que eu não precisava ser católica pra saber isso, só tenho que ser brasileira. E que eu acho até que a maioria dos súditos de Momo, católica ou não, nem sequer sabe que a data da “festa” é baseada na Páscoa...
Resolvi contar esta pra vocês terem uma idéia de como foi a minha semana pagã. Não que eu esperasse muito mesmo mas... me perguntar se eu sou católica???

E aumentam as doações para a campanha mundial FAÇA A JAQUE FELIZ, este Criança Esperança de duração indeterminada (afinal, a Jaque tem realmente esperança de continuar criança). Eis que me chega um pacote do Brasil e eu, toda toda, abro com um sorriso de uma orelha a outra (praticamente uma Coringa – e o Batman nem é meu herói preferido). Minha amiga e comadre Doc, ajudada na escolha dos mimos por uma também adorável figura Pqna, me enviou um montão assim de presentes! Um kit completo no estilo “depois disto, até a Jaque fica bonita”, com esmaltes, alicate, esfoliante... até um fino roupão de banho me mandaram!
Elétrica, mal cheguei em casa e me mandei pra banheira! Saí com o roupão e me empoleirei no sofá da sala com todos os badulaques para um momento menininha, tão necessário à minha então situação – minhas unhas estavam de um jeito tal que eu poderia ser confundida com uma águia careca e colocada sob supervisão da entidade ibâmica do local. A Sueca peituda olhava, não sei se divertida ou curiosa com aquele balé da natureza, que ela provavelmente esperava ver apenas em algum programa do Discovery Channel.
Terminados os trabalhos, olhei orgulhosa para minhas mãos (inacreditavelmente, não me esquartejei – um feito para esta figura incapaz sequer de tomar xarope sem derrubar na blusa), e disse para ela: “uau! Finalmente tenho todas as unhas do mesmo tamanho!”
SP, com sua delicadeza de javali, responde: ”você se importa com isso?”
Olhei pra menina meio de lado. Eu não sou uma mulher fresca, mas ela ganha de longe... “bem”, respondi, “eu não sou dada a siricoticos” (obviamente não usei a palavra siricoticos, mas esta é uma tradução livre, num país livre) “mas isso é básico pra uma mulher... como os homens... não é que eu PRECISE de um Mel Gibson ou um Brad Pitt” (mas ACEITO, FELIZ. Só pra registrar. Vai que a Deusa do Amor lê também este diário, por cima dos ombros de alguém?), “mas pelo menos que não coce o saco em público, escove os dentes direitinho e não ache que arrotar o abecedário é um dom de Deus”.
Não sei se ela ficou chateada com a resposta, mas no dia seguinte, de manhã, ouvi o barulhinho característico do cortador de unhas no quarto ao lado...

Jaqueline Costa
Só falta cortar o cabelo pra deixar de parecer com o Primo It

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Diário Escocês – Página 9

Whisquisitos


Sueca Peituda começa a reclamar que seu namorado anda em crise. Ele se sente culpado por achar que não lhe dá o suporte necessário, que deveria ser mais presente, fazer mais por ela, blablablá, whiskas sachê...
Dizer isso pra uma mulher que comprou o primeiro perfume da sua vida aos 27 anos, sabe trocar pneu de carro e tem mais bigode que meu pai é assinar o próprio óbito. Menino tolinho. Pra Sueca Peituda, suporte é coisa que ela só precisa quando dá zica no laptop. Do fofo ela só quer ação.

Dei um pulo na praia... uma caminhada de quase uma hora e meia, pra ser sincera. Ida e volta, quase três horas andando em ruas aberdeenenses. Considerando que com este agradável friozinho (agradável para meus amigos pingüins, deixo claro) a gente não sua, a volta pra casa foi naquele ritmo de marcha atlética, apertadíssima.
Mas não era isso que iria contar, era da praia. Cheguei a ela, desci até a areia, caminhei uns duzentos metros até finalmente chegar à água. Não, eu não estava pensando em mergulhar, a menos que quisesse preservar meu corpo para a posteridade sem ter que pagar os absurdos que as clínicas de criogenia cobram. Era só uma coisinha básica, sentir a areia, molhar rapidamente os pés, saudar Iemanjá, sabem como é... mó tempão que a gente não conversa, ela poderia estar chateada. Tudo bem que a culpa é dela, século 21 e nem um celular ela carrega, não tem email nem orkut! Fica difícil, nêga!
Bem, lá fui eu... caminhando pela areia, um pouco mais próximo à água descalço tênis e meias e, corajosa (Valentina não é à toa), vou até as ondas.
Não demorei nem dez segundos. Conversa com Iemanjá o caramba! Duvido que ela tenha a ousadia de aparecer aqui com aquele vestidinho azul! Com a temperatura daquela água, ela iria ficar TODA azul. E nunca mais ia conseguir dar pinta em Copacabana.
Já vi que se eu quisesse mesmo conversar com ela, teria que colocar um recadinho na garrafa e dar uma de náufraga. Entrar na água, nem se eu estivesse tomando coca-cola com trombeta!

A galera do trabalho fica me pedindo para ensinar algumas palavras em português. Só ensino expressões polidas, “como vai?”, “tudo bem?”, “obrigada”. Apesar das insistências, não ensino palavrões. Afinal, eu sou fina pra caralho. Diante dos pedidos alego sempre: sou uma dama.
Eles realmente acham que vou dar esse mole pros malandros? Ha! Nem fudendo.

Recebo uma mensagem no meu celular, número desconhecido: “Happy Chinese New Year! May all your wishes come true in the year of Rat 2008”.
Ano do rato? Alguém tá de sacanagem… Não faço por menos e respondo imediatamente: “Have a mice year”.


Jaqueline Costa
Que está ficando sem subtítulos

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Meu Esquisito Diário – Página 8

Friaralho do Carinho

Esse povo da Bretranha, Grã ou Pequê, é tarado pela Victoria Beckham. Pro marido eles não estão nem aí, mas a ex-spicy, nossa! Em todas: revista, semanários, jornais, suplementos... Victoria diz como está seu casamento, Victoria revela os segredos do seu guarda-roupa. Victoria diz que não se importa de estar gorda (no dedão do pé, eu presumo). Victoria fala de seu drama: “meu marido não conversa comigo”.
Não conversa porque não precisa. Basta ser assinante do Herald’s que ele pode saber o que a mulher está sentindo, o que comeu no café-da-manhã, como foi seu dia e o que ela espera ganhar, de surpresa, em seu aniversário.

E eis que eu experimentei minha primeira chuva de gelo (freezing rain, como eles chamam aqui). Nos cornos. Uma diliça.
Cheguei à base pela manhã e a supervisora da oficina começa a dividir as tarefas. Olhou para mim e disse: “você vai ficar lá fora”. Sorrindo, perguntei: “sua mãe vai bem, né?”. Como ela não entendeu, só coube-me recolher meu capacete e minha insignificância e sair.
Não havia nem 20 minutos que eu havia começado a trabalhar para a chuva dar o ar de sua desgraça. Que pouca é bobagem, então de água passou a pedregulhos de gelo, que, ajudados pelo vento, batiam com toda vontade neste rostinho – se já não era lá essas coisas, com essa massagem então...
Felizmente terminei meus afazeres antes do almoço. A chuva de gelo passou a nevasca de ocasião, e finalmente, depois de tantas vezes tiritando de frio (não só aqui. A lembrar as aventuras em New Orleans, Dallas, na Patagônia Argentina...), pude ver nevar!
E, vão por mim: olhando pela janela, do lado de dentro de um prédio com aquecimento central, é bem bonito!
Domingo, com a neve dando um descanso, resolvi dar uma volta de bicicleta pela cidade. Sem neve sim, mas nem por isso sem dificuldade. Uma leve descida, não era nenhum montain bike downhill, mas o suficiente para, pesos meu e da bicicleta em conjunto, adquirir certa velocidade sem precisar pedalar. Mas o vento contra foi aumentando, aumentando e... a bicicleta párou! Ou melhor dizendo, o vento párou a minha bicicleta! Cheguei a descer da danada e ver se os pneus estavam ok, se os freios não estavam travados. Não, não estavam. Era o vento mesmo – que, se estivesse a favor, teria certamente me ajudado a quebrar o record mundial de velocidade em duas rodas.
A sueca peituda voltou de sua semana de folga em terras natais. Ela já havia me dito que na Suécia, no verão, o Sol não se põe – o famoso “Sol da Meia-Noite”. Claro que isso significa que no inverno o Sol não aparece. Fácil compreender porque na Suécia o único produto de exportação é filme pornô: três meses no escuro, se você não pensar em suicídio, só pensa em sacanagem!
Mas disse a mulher-gigante que lá sim, está frio.
Aparentemente, aqui não. O que me leva a concluir que o fenômeno meteorológico que párou minha bike foi apenas uma leve brisa.



Jaqueline Costa
Entre Highlanders. E sem medo de decepar

Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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