Primeira Página de 2009
No último dia do ano de 2008, os planos eram então, depois de um Natal Colombiano, como já contei, ter um legítimo reveillón venezuelano. Como o estrago que a noite feliz fez no meu corpo, tenho a dizer que estava assustada e já tinha inclusive revisto o testamento só por precaução.
Qual não foi minha surpresa ao ver que o Ano Novo Venezuelano foi, à parte as músicas em espanhol, um legítimo Natal Brasileiro para mim, ceia, família, brincadeiras entre familiares, um bêbado ocasional. Exatamente o pit stop que meu fígado precisava para recompor-se.
Meia-noite com brinde, uvas para os 12 desejos e... passear do lado de fora com a mala!
Isso sim foi novidade. Para os nossos amigos ao norte do Equador, para que você viaje bastante durante o ano que começa, você deve à meia-noite do dia 1º levar a mala para passear do lado de fora da casa.
Eles me ofereceram emprestar a mala mas, com o ano que passou, sem a história da mala, fiquei com medo de aceitar e em 2009 ter que me virar para mandar as páginas do diário direto de alguma lua de Júpiter.
Dia seguinte então foi minha vez de dar vazão às nossas tradições. Um bate-papo com Yemanjá, coisa básica, só um oi.
Foi uma das visitas mais rápidas da história.
De jaqueta mega-punk grossa, calças e botas para inverno, dirigi até a praia. Eu não havia bebido na noite anterior, mas não posso dizer o mesmo do Mar do Norte, que estava completamente de ressaca. Desci do carro com a toalha no ombro e, enquanto descia as escadas para onde teoricamente havia areia, numa vã tentativa de dar apoio moral a mim mesma, praticamente uma cheerleader do superego, internamente falava “é menos ruim do que parece. Não está esse frio todo. O vento é psicológico. Vai lá. Você pode! Ô Jaque, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!!!”.
Já no último degrau da escada, tirei botas e meias, arregacei as calças e... pisei na água. E os anos de física que estudei não são suficientes para que eu consiga entender como é que a água estava MAIS FRIA QUE GELO!!!
Em compensação imediatamente toda a filosofia Do-In fez sentido pra mim, com sua teoria dos pontos interligados pelo corpo. Eu molhei os pés e meu cérebro imediatamente congelou. Nenhum pensamento era reto mais, e o sentido de sobrevivência me fez correr escadaria acima, me entocar no carro e, aquecimento rufando, secar os pés e colocar as meias e botas novamente.
Ainda tive que esperar um tempo até ter sensibilidade suficiente para usar o acelerador.
E o pior é a sensação de inutilidade do meu sacrifício. Com a água naquela temperatura, CLARO que Yemanjá não se atreveria a dar pinta por aqui, naquele vestidinho azul fininho! Tenho a forte sensação de ter quase tido uma hipotermia e tudo que recebi foi um singelo “Oi. Este é o correio de voz de Yemanjá. Deixe seu recado após o BIP”.
Decidido. Ano que vem eu escrevo um cartão de Natal e Boas Festas pra Ela. Coloco numa garrafa e atiro do alto das escadas.
Jaqueline Costa
Ainda não se recuperou totalmente