segunda-feira, 23 de março de 2009

Nem Tudo É Festa – Só A Grande Parte

Página Escrita num Salto Temporal

Que me perdoem os que gostam de tudo organizadinho, mesa limpa, gaveta de calcinhas arrumada e fotos organizadas por tema e data. Nada disso é meu forte, e a página sobre San Andres vai vir depois desta, que é mais atual. Resolvi contar sobre o trabalho que me mandaram, uma operaçãozinha onshore.
Pra quem não esta familiarizado com o fantástico mundo do petróleo, deixem-me fazer uma breve explicação sobre onshore e offshore.
Petróleo é um combustível fóssil com algumas características interessantes - é mineral, porém composto basicamente por moléculas orgânicas. Foi usado durante muitos anos apenas como combustível para lamparinas. É inflamável, obviamente, existe em uma gama variada de viscosidades e, o mais importante para nós, trabalhadores desta indústria, SÓ DÁ EM LUGAR FEIO.
As explorações em alto-mar requerem plataformas especialmente construídas para tanto - são as locações offshore. Por conseguinte, os trabalhos em sondas em terra são chamados onshore.

Trabalhos onshore não são meus favoritos. Basta pensar que, estando offshore, há todo um serviço de hotelaria para garantir que a plataforma não seja convertida no maior e mais custoso chiqueiro do planeta. Cuidado que não existe nas locações de terra. Estas, em geral, não são mais que um clarão aberto no meio do nada, com contêineres que servem de escritório, cantina, vestiário e, claro, banheiro.
Agora, imaginem esse aprazível cenário num dia chuvoso, lamacento, sem nenhuma mucama pra passar uma vassoura, e aquele monte de peão solto.
A visão do inferno.

Me mandaram para um desses trabalhos aqui na Grande Bethânia. Eu já tinha comigo essas desagradáveis impressões adquiridas em alguns trabalhos no Brasil, mas aqui pude acrescentar uma mais: um friaralho do carinho!
Voces irão então perguntar: mas não há aquecedor?
E há, claro. No contêiner que serve de escritório, na cantina improvisada...
Mas vocês acham que alguém iria lembrar do banheiro???
E nem adianta passar o dia bebendo pouca água pra evitar a necessidade de retocar a maquiagem da bexiga. Com uma média de 4oC durante o dia, nem cavalo na bunda sua, e a cada vinte minutos a natureza chama.
Meus países baixos estão tão congelados que eu poderia dizer que já conheço os efeitos do botox de retaguarda.

O hotel que nos alocaram é uma página à parte. Aparentemente eles são novos no ramo, e tentam de verdade ajudar. Mas o fato de terem vinte e poucos schub-malucos, uns entrando às sete da manhã, outros saindo às duas da matina, voltando meio-dia, saindo de novo... digamos que não estamos ajudando muito. O fato de que o hotel já tinha alguns quartos reservados de antemão para o fim-de-semana também não ajudou, e nosso apoio logístico acreditou realmente que eles conseguiriam resolver este problema de espaço-tempo.
Assim passamos três dias num troca-troca de quarto absurdo, e os pobres que fazem turno tendo que revezar o uso da cama. Pelo menos me livrei disso, e também de dormir no salão de conferência, onde cinco de nós foram gentilmente acampados.
Para azar de quatro deles, um ronca absurdamente alto.

David, amigo e schub-boy, foi acomodado num quartinho de empregada. Que também foi usado pelos outros cinco do conference camping para tomar banho. Era praticamente um vestiário. Apertadim.
Meu único problema foi o cachorro que ocupava o quarto ao lado. Literalmente. O pobre latia pra qualquer barulho no corredor, e passou uma boa parte da noite ganindo por atenção.
Dia seguinte, nova troca de quartos. Me acomodaram num single-room que tem mais ou menos as dimensões de um quartinho de ferramentas. David conseguiu um quartinho mais digno para ele.
Desci para pedir uma jarra de água. Afinal, é preciso hidratar. O gerente, um sujeito que parece uma versão ainda mais nerd do Bill Gates, se ofereceu pra buscar. Quando me entregava a jarra, gentilmente me avisou que eu também poderia beber água do banheiro, que é potável.
Quase falei pra ele que o cachorro estava acomodado no outro quarto, esse negócio de beber água da privada não é muito a minha.

Saí para almoçar com três outros schub-boys, James e David, grã-bethânicos, e Delphine, francesa. A conversa no almoço girava em torno de bebês e gravidezes, já que um dos operadores, James, vai ser pai em breve. Delphine perguntou se ele sabia qual o sexo do bebê, ao que ele respondeu que não, e que na Escócia é proibido dizer aos pais o sexo da criança que habita a barriga.
Por que disso?, perguntamos a francesa e eu.
''Ah, é que algum tempo atrás um hospital foi processado por conta disso. O médico havia dito o sexo do bebê e os pais prepararam tudo, roupas, quarto, brinquedos... E o médico errou. Ele disse uma coisa e foi JUSTAMENTE O CONTRÁRIO...''
''Interessante. Sempre achei que nessa parada de informar o sexo do bebê, todo o erro seria justamente o contrario... Pelo visto há mais de uma opção aqui''.
Eu mereço...

Jaqueline Costa
É Gente Que Faz – Mal-Feito, mas Faz

segunda-feira, 16 de março de 2009

Turista Profissional

Trabalho é Coisa de Quem não Tem o que Fazer

Com a crise mundial, a queda da bolsa, a agitação do mercado asiático e meus movimentos peristálticos, resolvi tirar férias de novo. E meu chefe aceitou, olha que coisa! Antes que ele desistisse, me bandeei pro Brasil.
Proposta: uma semana de Brasil, uma de Colômbia com minha irmã Paulixta para conhecer Bogotá e a Ilha de San Andres, no mar caribenho, e de volta ao Brasil, para apresentar o carnaval carioca a minha amiga colombiana.

O clima reino juntinhense estava miserável. Dez negativos, nevando loucamente e o vento virado no 600. Isso obviamente afetou consideravelmente o horário de chegada do teco-teco que faz a agradável travessia Aberdeen-Paris, e eu perdi o vôo para o Rio. Aliás, eu e a parte da torcida do Flamengo que estava vindo de Aberdeen, Londres, Dublin e Amsterdã. Ou seja, um monte de brazucas que teriam que inventar o que fazer das dez e meia da manhã até as dez e meia da noite, quando haveria o embarque para o vôo seguinte.
Como Paris não é mais segredo pra mim (escroto mas verdadeiro), nem rolava de sair pela cidade debaixo de neve. Até porque tinha acordado quatro da manhã porque o vôo de Aberdeen era no internacionalmente conhecido Horário de Corno, às seis da matina. Assim, iria tão somente almoçar e arrumar um bom lugar pra ler meu livro. Obviamente, longe do Baby Care Room.
Tranquilamente perguntei à tia que reagendou meu vôo sobre voucher para comer enquanto esperava. Ela gentilmente me estendeu um que dava direito a um sanduíche e uma bebida. Pra passar 12 horas! Mas beleza, tudo que eu queria mesmo era uma cadeira confortável. Assim me encaminhei para o que parecia ser um restaurante razoável para aquela famosa boquinha.
Sentei-me com outros brazucas na mesma incômoda situação que eu – uma carioca que tinha ido a Aberdeen por conta de um curso qualquer de petróleo, um niteroiense que parecia uma mistura de Poeta Gentileza com Bob Marley, e dois irmãos lutadores de Ultimate Fighting.
A conversa era tranquila e dos mais variados assuntos, e eu mais escutava que qualquer coisa, afinal regras de Vale-Tudo não sào minha especialidade, e falar de trabalho à mesa me dá indigestão. Assim minhas contribuições estavam bem parcas até que um dos membros do Clube da Luta resolveu iniciar um momento National Geographic....

Mike Tyson: Um animal que é sinistro é o hipopótamo! ! !
Eu: Bem... é, sim, hipopótamo é... sinistro...
Mike Tyson: Não, ele ataca MESMO!
Eu: É, um hipopótamo nervoso é um perigo...
Mike Tyson: Hipopótamo é sinistro! MATA MAIS QUE ACIDENTE DE AVIÃO!
Eu, imediatamente: Ah, bom.... é que passagem de hipopótamo está muito barata hoje em dia

Não deu, né? Só não me perguntem de que Instituto Gallup esse cara tirou essa estatística!
Como já estou acostumada com esta natureza magnética para situações non-sense que a Deuxa me brindou, achei que tinha perdido o avião só pra poder ouvir essa pérola. Mas o dia ainda não havia acabado.

Devidamente mal-alimentada, procurei um lugar mais tranquilo para relaxar e curtir meu livrinho. Uma tv inacreditavelmente ligada na CNN anunciava uma nova descoberta científica – o crescimento de barba está diretamente ligado a quanto um homem pensa em sexo.
Imediatamente compreendi porque nunca gostei de imberbes.

As 12 horas de De Gaulle caminhavam para o seu final. Ao longo do tempo, vários vôos para regiões nevadas iam sendo cancelados – dado o risco de tentar pousar um boeing numa pista congelada. Mas como ainda não se pratica snowboarding na Rocinha, eu estava tranquila.
Qual não foi minha surpresa quando escuto a voz do aeroporto anunciar que o vôo para o Rio havia sido cancelado!
Problemas na aeronave. Murphy é foda.
E as malas já estavam no bagageiro, a gente não teria como retirar nada de lá. Ou seja, sem uma muda de roupa sequer. Murphy é foda e é um sacana filho-da-puta.
Depois de quase uma hora esperando que o sistema fosse atualizado com um novo vôo para o dia seguinte, troca de passagens, voucher de hotel e de jantar, segui rumo ao meu humilde quartinho. Não sem antes dar uma paradinha na sala de atendimento VIP da Air France e descolar uma providencial necessaire, com uma especialmente bem-vinda camiseta, imediatamente promovida à função de camisolinha.
Já no hotel, tive meu agradável no jantar na lojinha de conveniência, já que o restaurante estava fechado. Comida congelada requentada no microondas, isso porque a França é conhecida pela sua cozinha. Tudo isto cortesia desta fantástica empresa aérea que fez um vôo de 12 horas em 26....

Mas eu estava no Brasil. Isso valia tudo.

Jaqueline Costa
Colômbia à Vista

segunda-feira, 9 de março de 2009

Alpes e Alpinos

Passando Frio em Grande Estilo

Eis que o último fim-de-semana de Janeiro se anunciava e, com ele, a desculpa perfeita para viajar: era aniversário da minha amiga meio-francesa meio-americana, totalmente non-sense e polaca por maioria de votos, Stephie.
Inicialmente pensamos em buscar alguma praia para expor nossas figuras na Medina, mas uma rápida olhada no Weather Channel águou nossos planos: chuva em todas as areias européias. Nossa lógica torta nos levou à decisão de ir então a algum centro de esqui – afinal, se é pra passar frio, que seja estilosamente.
E foi assim que os Alpes Franceses foram agraciados com a presença de uma brazuca perdida, uma americana porraloca e um italiano além de qualquer definição simplista.

A um dia de viajar ela nos envia o destino: Bourg Saint-Maurice. Desconfiei seriamente que o lugar não existisse, já que, até onde sei, Maurício nunca foi santo. Mas como eu sou uma eterna criança, e eles também, fizemos nossas respectivas malas e rumamos para a Terra do Nunca.
Don Peppe havia me dado carta branca para comprar sua passagem, e nós acertaríamos depois as dívidas. No Duty Free do aeroporto de Apértim, os olhos do siciliano rapidamente foram capturados pelas garrafas de whisky em exposição, e ele resolveu comprar um presentinho a mais para Stephie.
Ainda na fila para pagar suas compras, eu perguntei se ele poderia dar uma olhada na minha mala enquanto eu iria ao banheiro. Quando saí do pipi-room vi meu carcamano favorito confortavelmente sentado na cafeteria, e me juntei a ele. Ele então comentou do estranho tratamento que recebeu da moça do caixa no Duty Free, que não só sorriu pra ele (fato inédito com os atendentes aqui), como também desejou a ele boa viagem e bom divertimento. Pepito estava totalmente estupefacto.
Eu imediatamente saquei qual era o caso: “Peppe! Ela pensa que você está pagando tudo pra mim! Caraca, que coisa ridícula! No mínimo ela acha que pode conseguir um fim-de-semana na França também!!!”
Logo depois me lembrei que ele não tinha ainda nem me devolvido o dinheiro da passagem dele...
“Pior! Não só você não me pagou nada, como EU QUE PAGUEI SUA PASSAGEM! Volta lá AGORA e fala que você é meu michê!!!”
Don Peppe achou a história muito divertida. Passou o fim-de-semana se dizendo personal gigolô.

Na chegada ao hotel, nossa primeira missão impossível: embora Stephie houvesse nos dito por email para levar roupa de banho, já que o hotel possuía piscina e jaque-zzi, Don Peppe não levou nem um short sequer, porque em sua mente mafiosa, qualquer resort ligado a atividades desportivas deve também vender roupa de banho – e fomos nós, malas devidamente deixadas no hotel, andar de loja em loja perguntando por sunga. Considerando que TODAS as lojas eram de equipamentos de esqui e snowboarding, vocês podem imaginar o sentimento de estranheza que causamos. Um dos atendentes nos olhou tão desconfiado que quase estendi a mão em sinal de paz e falei: “Leve-me ao seu líder!”
Obviamente, não encontramos nenhuma sunga.

Começamos então a explorar a montanha em que estávamos. “Explorar”, é claro, não pode ser tomado no correto sentido do termo. Na verdade a gente subiu o morro empurrando e enterrando uns aos outros na neve, além da clássica guerra de bolas de neve e um originalíssimo concurso de mergulho.
Há rumores de que a noite foi especialmente fria. Não sabemos. Como um dos presentes que Don Peppe comprou pra Stephie foi uma garrafa de Jack Daniels, nós estávamos devidamente anestesiados e enfrentamos bravamente o inverno francês.

No dia seguinte, como minha insanidade me fazia crer que eu ainda não tinha levado tombos suficientes naquela superfície gelada, convenci a americana a fazer comigo uma aula de snowboarding. O italiano foi nosso cameraman já que, segundo o próprio, ele é fisicamente incapaz de se manter em pé numa prancha.
Devo dizer que me apaixonei pela brincadeira – sobretudo porque todos os meus tombos foram de bunda, ou seja, nenhum problema para meu já sofrido joelhinho. Mas o dia terminava, e nós teríamos que voltar para as respectivas realidades labutantes. Trem de regreso, e meus dois comparsas resolveram me ensinar as artes do poker. Regado a whisky.
Chegar em Aberdeen foi complicaaaaado.

Jaqueline Costa
Jura que vai colocar o diário realmente em dia

Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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