sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011 – ANO NOVO, TUDO NOVO

Que No Próximo Ano Ninguém Mais Pergunte É Pavê ou Pacumê

2010 tá igual zero-2, pedindo pra sair. E 2011 tá logo ali, todo pimpão, querendo aparecer mais que ex-BBB no camarote da Globo.

Bom, como boa brasileira, o último dia do ano vem pra mim cheio de esperanças, resoluções para uma vida melhor, promessas de parar de beber...
Opa. Peraí, não.... promessa de parar de beber eu farei amanhã, durante a ressaca.

Enfim. Como toda boa brasileira, eu sei que o segredo para um bom ano não está em esforço pessoal, trabalho, dedicação, bons amigos, família por perto..... pra ter um ano porreta eu tenho é que fazer muita simpatia!
Então, já estou aqui com a lentilha cozida, as doze uvas separadas, meia noite vou lá pular sete ondinhas e ainda bem que não conheço nenhuma receita de simpatia de ano novo que leve arruda, porque eu não faço idéia de como se fala arruda em francês.

Uma parte muito importante do ano que se aproxima será definida logo depois do banho, quando nós inocentemente vestimos a roupa de baixo que estará ali grudadinha na pele à meia-noite (não tão grudada para os adeptos das calçolas e das cuecas samba-canção). A cor da roupa de baixo aparentemente realiza incríveis manobras cosmo-mediúnicas e se você escolher a cor errada, suas chances de ter um bom ano vão por cidra cereser abaixo.
Se você está na dúvida quanto à cor, uma opção é partir para o um por todos, todos por um, e vestir uma calcinha/cueca que tenha todo o espectro do arco-íris estampado.
Mas se você não quiser correr o risco de ver sua lógica opção de garantir boas energias para 2011 ser confundida com uma repentina decisão de deixar o armário, uma saída pode ser apelar para o orixá que governará o ano. Segundo os especialistas em umbanda, candomblé, babalorixás, oloxum, olodum, timbalada e é o tchan, o ano que se inicia será de Oxum, a rainha das águas doces.

Muita gente está se animando com este 2011 de Oxum, já que 2010 foi meio Shimbalayê. E a Bahia, de todos os santos, todos os orixás e todos as micaretas, já está preparada para receber o ano da melhor maneira, homenageando o orixá da sedução. De acordo com os estudiosos, a melhor maneira de entrar o ano é usando uma calcinha amarela, e roupas brancas com detalhes dourados.

Bom, eu não estou na Bahia. Estou na África. Não tenho calcinha amarela e me recuso a comprar uma calcinha africana porque dá azar. Se não der azar, dá cheiro. O que é praticamente a mesma coisa. O mais próximo que eu tenho é calcinha bege, mas um vidente me disse que calcinha bege embaranga sua aura e isso traz pra você um ano sem sexo - pra se fuder, só no trabalho!

Pensei em usar uma calcinha vermelha. Paixão, né? Sempre é bom. Ou de repente rosa, Amor. Ou branco, de paz... mas aí descobri que essas cores todas já tem seus respectivos donos, entre os orixás. E se eu ofendo Oxum por ter preterido sua cor em prol de outro?

Procurei uma cor que não pertencesse a nenhum dos santos. Uma cor neutra.
Adivinhem? Bege.

Resumindo: vou passar sem calcinha pra não correr risco de deixar ninguém zangado.

Mas o que importa é o que interessa. E o que interessa é que eu lhes desejo um... FELIZ ANO NOVO! ! !

Jaqueline Costa
Espera que em 2011 a gente tome mais cerveja e menos no cu

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UMA ÓTIMA CAUSA

Galera

Agora não é uma página de diário, não é uma besteira qualquer.
É um pedido de Natal.

Vou explicar mais ou menos a história.
A Nissan resolveu fazer uma promoção e dar um carro de presente a quem conseguisse que um tópico específico do twitter fosse reenviado 44500 vezes.
É muita coisa.
Claro que tem tarado de montão querendo o carro. Que eu nem sei qual é.
Um grupo de amigos resolveu tentar algo bacana. Bacana de verdade.
Tentar ganhar a promoção - para doar o carro para uma instituição que ajuda crianças com poucos recursos. A ONG Família Santa Clara

A Família Santa Clara tem como missão a recuperação de crianças e jovens em situação de risco, através de uma estrutura familiar e auxílio pedagógico, psicológico e intelectual, aprontando-os para a re-inserção na sociedade como cidadãos conscientes e participativos. Como cidadãos da paz. (Extraído do site)
A história toda está contada aqui , entrem lá, leiam. Há inclusive um termo de compromisso com firma reconhecida de que o carro será doado.
É Natal, galera. E a gente fala tanto em amor nessa época do ano, em família... bom, eu agradeço à família que tenho, e o amor que recebo da minha família - e por família digo todos os amigos que me receberam em suas vidas.
Ou seja, tenho uma família enorme.
O que me leva a escrever este email é que nesta época do ano eu não apenas penso em todo o amor que recebo desta família gigantesca que tenho. Penso naqueles que nunca puderam ter acesso a isto.
Penso como seria particularmente difícil sentir VIDA se eu não tivesse tudo isso em minha vida.

E aí a gente descobre que há pessoas que não apenas pensam isto, mas que tentam mudar. Gente como seu Cícero e dona Eliete, que dirigem essa ONG.
E afinal, qual é o meu pedido de Natal?
Façam parte dessa campanha. Quem tem twitter, por favor, entre em http://twitter.com/anarina/status/10128926659579904 e faça o RT do tópico (tem que ser o automático, pelo botão. Não vale copiar e colar...).
Quem não tem twitter, cria um vai! Não custa nada! Vai lá, cria, dá RT e apaga.... não tem problema!
Bora todo mundo tentar fazer parte dessa história, dessa família....

Já de antemão, MUITO OBRIGADA

E Feliz Natal
--
Jaque
--
...... __@
...._ \ >_
...(_)/ (_)_________
X-treme Games - X-treme Jobs

2010 – Ame-o ou Deixe-o

Então, chegamos àquela época esperada por todos, quando eu lhes trago amavelmente a retrospectiva do ano.
Ah, você não estava esperando ansiosamente por esta retrospectiva? Problema seu, quem mandou pedir pra entrar na minha lista de leitores?
Ah, você NÃO PEDIU? Então, usa o DISK-CapNASCIMENTO e pede pra sair!
Agora que já ficou claro o procedimento para reclamações, vamos ao que interessa: os fatos marcantes de 2010. Este ano, com links!
Ano que começou com a promessa de fortes emoções. Vinha dum campeonato da NAÇÃO RUBRO-NEGRA, e iria ter Copa do Mundo e eleições. O ano prometia vir com muita coisa pra contar.
E contou. Jä começou contando com um Boris Casoy preconceituoso fazendo o Brasil inteiro olhar pra ele e repetir: isto é uma vergonha!
Depois veio a copa, e 2010 contou de novo – as decepções. Itália eliminada na primeira fase, Inglaterra comendo um frango xadrez histórico, juiz que não vê gol com a bola três quilômetros e meio dentro, Brasil envergonhando e Dunga voltando a ser o anão que sempre foi, Argentina saindo e o anão de lá continua com a bola cheia (argentino é definitivamente um povo esquisito), teve a Alemanha nadando, nadando, nadando.... e morrendo na piscininha tôni com 10cm de água.
Teve Salomão, coitadinho, desesperaaaaaaaaaaaaaaaado com a saída do Brasil da Copa.
E teve a Espanha, que decepcionou no começo e levou a taça no fim. E a Holanda que empolgou no começo e decepcionou no fim...
Mas a Copa veio, e foi. Fora algumas larissa riquelmadas que se contou por aí, nada demais. E já era hora de contar outras histórias.
Contamos 9875173409713289*log(π) votos para Tiririca. Os paulistas, estes inovadores, agora decidiram que queriam um palhaço também do outro lado das urnas.
Perdemos as contas das balas trocadas no Rio. Aliás, quem estava lá, teve mesmo é que contar com a sorte...
Contamos um monte de mineiro chileno saindo do fundo do poço. Mas eu não vou colocar link pra isso não que já deu o que tinha que dar, já tiraram todo mundo do buraco e até agora eu não entendi se o povo era de Minas Gerais ou do Chile!
Agora, gente – o que foi o Barraco de Sorocada!!!
E Silvio Santos pobre - fala sério! Com essa ninguém contava!
Mas o homem do sorriso de acrílico prometeu pagar todas as dívidas do Banco Panamericano, e colocou o SBTe o Baú da Felicidade como garantias no empréstimo que fez junto à Caixa Econômica. Daqui a 3 anos, a Caixa vai poder retirar todo o dinheiro, corrigido, em mercadorias de mesmo valor!
Num ano em que o futebol decepcionou, contamos com Fabiana Murer pra fazer a gente sonhar com uma boa olimpíada no Brasil... veremos!
2010 foi o ano em que Ricky Martin contou pra todo mundo o que não era segredo nem pra mãe dele. E teve Rihanna fazendo cosplay de Alcione, teve Justin Biba, teve Restaaaaaaaaaaaargh – uma puta falta de sacanagem!
Artista mesmo é a Vanusa, que depois do hino que nos emocionou ano passado, voltou a atacar e virou novo hit.
Vera Fischer resolveu também contar histórias e lançou um livro, mas nem adianta você querer comprar porque ela não escreve pra pobre.

E o ano termina com uma mulher eleita presidente do Brasil, e Fluminense campeão. Sinal de novos tempos, os homens que se cuidem!!!

Enfim, 2011 está aí, pertinho, dá pra tocar com a mão. E espero que seja um ano em que você possa contar alegrias, contar sorrisos, contar piadas, contar histórias, contar jantares a dois, contar encontros com amigos, contar pra mim que se apaixonou (adoro fofoca romântica!!!), contar churrascos de família, contar passeios de bicicleta, contar dias de sol, contar noites de luar, contar sucessos, contar sonhos realizados...
E contar comigo!

Bom Natal, Excelente Ano
E Vomo que vomo!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sobra Tanta Falta...



Falta tanta coisa na minha janela, como uma praia
Falta tanta coisa na memória, como o rosto dela
Falta tanto tempo no relógio quanto uma semana
Sobra tanta falta de paciência que me desespero

Sobram tantas meias-verdades que guardo pra mim mesmo
Sobram tantos medos, que nem me protejo mais
Sobra tanto espaço dentro do abraço
Falta tanta coisa pra dizer que nunca consigo...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Congalices

Um Breve Ensaio Sobre a Vida Africana

As páginas do diário geralmente versam sobre lugares turísticos e aprazíveis, e as invariáveis besteiras que eu faço nesses locais. Bom, Congo não é aprazível, não é turístico e se bobear nem é um local, é uma rachadura no espaço-tempo que me trouxe pro mundo de Bizarro. Mas mesmo assim, resolvei escrever uma página sobre as coisas por aqui – UMA SÓ!

Espremido entre Angola, Gabão e a República Democrática do Congo, antigo Zaire, está este pequeno país que atende por República do Congo. Poderiam deixar apenas Congo, ou nem isso, mas aparentemente o povo da África gosta da palavra “república”, mesmo que não tenha muita certeza do que significa, e nomear um país apenas “República de” ia ser estranho, então meteram um “Congo” depois.

Eu estava em Cape Town e de lá viria para Pointe-Noire. Um vôo reto, levaria, sei lá, umas quatro horas. Mas pra fazer um vôo reto você tem que apresentar sua carteira de trabalho tendo baixa na categoria “CORNOS”. Como eu não satisfazia o requisito, fui presenteada com a sequência Cape Town > Johannesbourg > Nairobi > Brazzaville > Pointe-Noire. Este lindo labirinto do Fauno leva vinte e nove horas para ser concluído, se você tiver sorte e os aviões tiverem combustível.

Se alguém se lembra do meu comentário sobre o aeroporto de Moçambique, tenho algo a dizer: era primeira-classe se comparado ao de Brazzaville. E olha que Brazzaville é a majestosa CAPITAL do Congo! Seguem algumas fotos nesta página para dar uma idéia do luxo e decoração do local. Perdão pela má qualidade das fotos (e do aeroporto).







Depois de lutar bravamente pela minha bagagem, segui para o balcão da aerolinha que iria me levar de Brazzaville a Pointe-Noire – a espetacular TAC, Transportes Aéreos Congo.
A impressão que se tem quando se encontra finalmente o tal balcão é que “Transportes Aéreos” deve ser apenas uma homenagem singela a este meio de locomoção. Nenhuma mente com um mínimo de bom senso acredita que aquele seja o atendimento de uma companhia aérea – no máximo, é o caixa da vendinha do Zé.
Entreguei a impressão do meu comprovante da passagem, e aguardei meu ticket de embarque. A feira logo atrás de mim corria solta, e eu mais me sentia na rodoviária Novo Rio em época de Natal, com todas aquelas pessoas que embarcam para o Nordeste levando a vida embrulhada em caixas de papelão. A única diferença é que pelo menos a galera da Novo Rio tem o bom senso de não viajar com quilos de peixe fresco dentro de panelas com tampas amarradas.
Após vários minutos de espera (eu estava na dúvida se o atendente não conseguia ler meu passaporte por não saber inglês, ou por simplesmente não saber ler) finalmente ele me entrega algo. Mas em lugar de um ticket de embarque com número de vôo, horário de embarque e partida, e número de assento, ele gentilmente me entregou um boleto de um talonário escrito a mão, onde ele garranchou qualquer coisa que eu não consegui decifrar. Parecia mais um bilhete de rifa, e eu torci pra ganhar uma bicicleta.

Assim fui eu apresentada para o Congo. A primeira impressão é a que fica, como diria a Epson.

Os meses seguintes eu passaria a conhecer o país mais a fundo. Colônia francesa como a maioria dos países deste lado da África, apenas alcançou sua “independência” em 1960. Coloquei entre aspas, pois qualquer pessoa que venha aqui e veja que todas as grandes empresas e comércios pertencem a franceses, que a polícia congalesa é submetida às forças armadas francesas, que não há decisão política sem o aval da França, e que basta um francês falar alto para 10 congaleses se cagarem, sabe que não há independência aqui. Uma realidade que se mantém também graças à corrupção de todos os poderes aqui, e a um povo que pouco valoriza a própria raiz.

Uma visita ao museu da cidade tem menos atrativos históricos que um passeio pelo meu quarto, onde pelo menos vocês irão encontrar um monte de CD velho. O povo, ao ver seu país declarado independente, resolveu destruir todos os edifícios que haviam sediado qualquer parte do governo francês, e queimar documentos, quadros e qualquer referência à época de colônia. Interessante reação de revolta que apenas prejudicou ao seu próprio país, sem que nenhum francês tenha perdido o sono ou sequer o cochilo por conta disso.

A realidade do Congo não é uma exceção – digamos que se fosse escrever sobre todos os países africanos, com exceção da África do Sul, bastaria usar o recurso de “substituir” do Word pra mudar os nomes, e estaria tudo certo. Com pouca noção sobre a vida fora de seus quintais, a população não é exatamente um empecilho para governantes vitalícios explorarem terras e recursos, reunindo em bancos na Suiça fortunas que fariam nosso Collor de Mello parecer um ladrão de galinhas. A corrupção e a certeza de onipotência contamina todas as escalas de autoridade, do presidente do país ao mero policial da esquina, gerando esta gigante terra sem lei que se divide em diferentes países apenas pra ficar mais bonito no mapa-mundi.

Saúde não é exatamente uma prioridade, então doenças erradicadas em qualquer lugar civilizado aqui são ocorrências comuns. Pólio, sarampo, difteria, malária, cólera, entre outras, matam tão frequentemente que sequer aparecem nos jornais. E, claro, a AIDS é lugar-comum.

Como podem ver, não há muita coisa de aprazível no Congo.
Na próxima página, algumas aventuras vividas aqui. E as dicas.

Jaqueline Costa
Já pegou Malária

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Axé pra Todo Mundo

Diário em Velocidade Bahiana

Afinal, quem nasce na Bahia é baiano ou é bahiano?
Enfim... deixo a dúvida gentílica com vocês.

Os dias transcorriam com a calma bahiana (baiana?) tradicional, visse painho? E foi num desses preguiçosos dias que, entre uma cerveja e um mergulho, vemos três pessoas escolherem uma mesa perto de nossas espreguiçadeiras, tomarem assento e chamarem o garçom. Mais um grupo familiar, nada a acrescentar, não fosse a recomendação da senhora entre eles para o garçom, logo após eles pedirem a esperada cerveja:
- Meu filho, eu quero que você traga uma cerveja assim canela de pedreiro!!!
A curiosidade foi maior que o fato descartável de não fazermos idéia de quem eram... olhei pra dona e falei:
- Eu gostaria muitíssimo de entender o que é uma cerveja canela de pedreiro...
Ela riu alto. E entre a explicação (é aquela que a garrafa está BRANCA de tão gelada. Tal como a canela do pedreiro, branca de tanto cimento...) e as apresentações, começou uma grande amizade entre os grupos. Passamos o resto da manhã e início da tarde ali tomando cerveja, e combinamos de nos encontrar no jantar.
Combinado e cumprido. Nos encontramos para mais uma rodada de gargalhadas regadas a cerveja. O jantar terminou mas a vontade de rir não, então seguimos para o bar ao lado. Que fechou, mas havia outro. E entramos. E fechamos.
E assim fizemos todo o caminho de volta à pousada, apagando uma a uma as luzes dos barzinhos. Já era hora de ir dormir. Mas eis que ao lado da pousada em que a Paulixta e eu relaxávamos nossos corpitchos havia um restaurante. Que já estava fechado, e cuja dona e seus amigos tomavam juntos uma última cerveja na varada.
Para azar da dona, Julia, a filósofa que nos ensinou a sabedoria da cerveja canela-de-pedreiro, havia já almoçado ali e lembrava seu nome. Sem a menor cerimônia ou bom-senso, perguntou da rua:
- JOELMA, MINHA FILHA, EU QUERO UM CALDINHO! TEM UM CALDINHO, TEM?
Joelma também já havia substituído o bom-senso pelo teor alcoólico, e disse:
- TEM SIM. SUBA.
Foi a deixa para todos subirem. E a portas fechadas, terminar com o que ainda havia de cerveja no freezer de Joelma. E renovar as gargalhadas.
Como nossa missão havia terminado (e as cervejas), seguimos para a pousada e combinamos o jantar na noite seguinte. Que seguiu basicamente o mesmo ritual, porém para o outro lado da ilha. Na volta, parando novamente em cada bar para uma última cerveja, Misael, marido de Júlia, com sua calma e tranquilidade características e impressionantes, falava a cada parada:
- Julia, minha filha, vamos embora... são duas da manhã...
- Julia, minha filha.... são duas e meia....
E assim caminhávamos. E já estávamos perto da pousada e do restaurante de Joelma quando Julia resolveu que queria tirar uma foto de Misael em frente à pousada:
- Misael, meu filho, páre aqui!
Misael continuou caminhando.
- Misael., NÃO ESTRAGUE MINHA FOTO!
Nisso, Misael se virou. Voltou para nós e com o dedo em riste começou a falar:
- Eu vou explicar uma vez só...
Pronto, imaginamos Paulixta e eu, ele agora vai dizer ‘tô indo dormir, quem quiser que fique aqui, essa palhaçada já deu!’. Mas em lugar de um esporro, ouvimos do calmo e tranquilo Misael o seguinte:
- ...eu vou contar até 3, assim: 1, 2, 3... e vocês vão cantar “JO-EL-MA! CADÊ VOCÊ? EU VIM AQUI SÓ PRA TE VER!’
Nunca confiem nos quietinhos....


Novidade no Diário
É tanta gente me pedindo informação dos passeios que já fiz, que resolvi acrescentar em minhas páginas uma sessão de dicas, bizus, informações e afins.
Afins dumas cervejas.

Dicas
Para chegar à ilha há dois métodos básicos, de avião ou de catamarã. As duas empresas aéreas que teco-tequeiam até lá são a Addey e a Aerostar. Vocês podem consultar datas, preços e reservar online para qualquer das empresas em http://www.morrodesaopaulobrasil.com.br/portugues/aereo.htm.

Para quem não quer se arriscar numa van de asas, então o negócio é ir de tud-tud-tud. Os catamarãs para Morro Terminal Marítimo do Mercado Modelo de Salvador, e enfrentar duas horas de travessia, ou ir para Valença e pegar a lancha, em torno de 30 minutos. Claro que pra chegar ATÉ VALENÇA vai ser chão...

Já em Morro, a grande, mega dica é mesmo se estirar numa das espreguiçadeiras da primeira praia, curtir o sol, o mar, a cerveja gelada e os atendentes das barraquinhas, que além de figuraças também oferecem um serviço ímpar: se você estiver com muita falta de coragem (porque preguiça é uma coisa muito feia de se sentir) de caminhar até a água para se refrescar, os meninos gentilmente trazem a água do mar até você, usando regadores!

Mas não deixe essa mordomia engessar você. Há também o passeio de barco até a vizinha Boipeba, com paradas para relaxar e até conhecer uma cultura de ostras.

Reserve o dia de céu mais limpo para terminar sua tarde na Toca do Morcego. O visual de lá é definitivamente inenarrável, e um por-do-sol naquele ponto da ilha, seguido da costumeira roda de MPB, vale a subida até lá.

Para as outras noites, há sempre uma ou outra festa rolando na praia – nunca compre seu ingresso com o primeiro vendedor ou nas primeiras horas da praia. Conforme a noite chega, chegam também os abatimentos nos preços. E não esqueça de passar na praça da cidade e tomar um belo copo da Batida do Joe. Além da batida ser deliciosa, Joe e Roberto são duas simpatias!

E é isso. Num futuro próximo compilarei em uma página as dicas das viagens passadas. E daqui pra frente, cada destino novo virá com suas dicas inclusas!

Jaqueline Costa
Não ganhou nada pelo merchan

O Último Post...

...foi pra me lembrar disso - que eu não posso me acostumar.
Como quem mais lê esse blog sou eu mesma, tô usando como uma agenda agora.
Acostumem-se ;)

A Gente Se Acostuma

Marina Colassanti
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e não ver vista que não sejam as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma e não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, se esquece do sol, se esquece do ar, esquece da amplidão.

A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder tempo. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E não aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: “hoje não posso ir”. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes. A abrir as revistas e ler artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Às bactérias de água potável. À contaminação da água do mar. À morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.

A gente se acostuma a não falar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma

domingo, 14 de novembro de 2010

Fotos de Pointe-Noire





Minha idéia para o domingo era simples - andar de bicicleta, talvez parar para uma água no Twiga Club e escrever algumas linhas para o diário olhando o mar. Geralmente desses passeios saem meus melhores textos.
O dia havia amanhecido particularmente bonito, então resolvi também colocar minha câmera na camelbag pro caso de ver algo para registrar. E já no início do passeio, ao passar em frente aos correios, vejo um artista local expondo suas pinturas. O colorido fazia uma imagem tão legal, que parei para as primeiras fotos.
Foi quando me dei conta de que pouco havia fotografado aqui, em Pointe-Noire. E que embora esta não seja uma cidade que eu vá aconselhar ninguém a fazer turismo, ainda assim há coisas fotografáveis.
Resolvi então fazer meu safári fotográfico, tirar várias fotos para mais ou menos mostrar pra vocês como é a cidade.
Infelizmente o safári foi curto, um problema que vou contar em alguma página futura. Mas creio que minhas pretensões fotográficas, junto com minha paixão pelo ciclismo, ficarão na geladeira enquanto eu estiver por aqui.
Bem, espero que gostem das fotos!




quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Brasileirinhas

Uma Pausa Africana para Um Passeio Brazuca

Novamente eu quebro a linha espaço-tempo das histórias. Desta vez foi de caso pensado – como 22 de Setembro é o Dia Mundial Sem Carro, resolvi que seria o dia ideal para contar de meu passeio a Morro de São Paulo.
Quem me conhece sabe que há um ano eu ativamente participo do “Dia Mundial Sem Carro”, todo dia cotidianamente no meu dia-a-dia diário. Na verdade eu também contribuo para o “Dia Mundial Sem Saco”, o “Dia Mundial Sem Sexo”, e o “Dia Mundial Sem o Brad Pitt Te Chamando de Gostosa”. Mas nada disso vem ao caso. Nem vai a Morro.

A idéia veio da Paulixta – dez dias em Morro de São Paulo. Que é uma sacanagem já começando no nome, porque não é um morro, é uma ilha, e fica na Bahia. Mas os pontos importantes estão todos lá – as praias lindas e as brejas geladas.
Para chegar a Morro partindo de Salvador há duas opções: de barquinho tud-tud-tud, ou de monoplano. Com o estômago sensível da Paulixta e a ansiedade cavalar desta figura que lhes escreve, teco-tecar até a ilha foi a escolha. Assim, após algo próximo de uma hora de vôo num modelo da Lego, aterrissamos em Morro de São Paulo, e imediatamente um táxi de acercou de nós oferecendo seus serviços.
Como um táxi entrou numa pista de pouso, vocês se perguntam. Bem, digamos que os táxis de Morro são especiais, totalmente eco-friendly e também ativistas do “Dia Sem Carro”. Melhor ilustrar o que digo:

Toda a ilha segue essa ‘filosofia’, e há apenas 3 carros motorizados em todo o local. Um é da polícia.
Também não se ouve celular tocando nem se vê pessoas passando apressadas a caminho sabe-se lá de que forca. Se preguiça não fosse considerada um pecado (injustamente a meu ver), eu até diria que ali era o tal do Paraíso.
Nos hospedamos numa das pousadas mais simpáticas que já estive. E com uma vista para o mar que era um desbunde.
Claro que estando numa ilha que deve caber em um bairro pequeno do Rio, difícil seria não ter uma vista para o mar. Mas acreditem, essa era realmente linda.
Já no primeiro dia, a Paulixta me vem com a Missão Impossível da viagem: encontrar manteiga de garrafa. Por alguma razão troncha ela achou que procurar ingredientes dum prato nortista numa ilha bahiana seria uma coisa muito divertida. Mas enfim, descarregamos nossas malas, vestimos a indumentária apropriada para nossa difícil tarefa – leia biquinis – e partimos para a praia.
Foram dias muito difíceis, devo dizer. Iniciávamos à base de água de côco, para hidratar e fingir que éramos saudáveis. Então estiradas nas espreguiçadeiras começávamos nosso duelo particular de tom de bronzeado. Isso até que uma esquecesse a proposta saudável e pedisse uma cerveja.
Entre uma cerveja e outra, a pesquisa sobre onde comprar manteiga de garrafa seguia. Em toda a ilha ninguém soube dizer onde poderíamos encontrar a tal manteiga. Mas ainda havia esperanças, afinal faríamos um passeio de barco visitando outras ilhas próximas, quem sabe numa delas não houvesse essa tal manteiga amiga número um das nossas artérias?
O passeio seguia pelas ilhas de Tinharé e Boipeba, visitando fazendas aquáticas de ostras, aquários naturais, atravessando o rio que separa as ilhas e fazendo uma pequena parada em Cairu, município do arquipélago ao qual é ligada a Vila de Morro de São Paulo. Em Cairu resolvemos dar um incentivo à população local, contratando um pequeno guia para contar a história da cidade. Foi o guia mais fajuto que já tive, apenas cinco minutos de conversa e no fim ele ainda jurava de pés juntos que Cairu fazia parte do continente!
E claro, o guia não sabia onde poderíamos comprar manteiga de garrafa.
Ainda estávamos a meio caminho das férias, mas eu já estava quase dando leite pra ver se isso acabava com a busca!

Jaqueline Costa
Foi no Tororó beber água e não achou

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Descontraindo o ambiente bloguino

Os papos de política e afins estavam meio sérios, e o povo achou que alguém tinha roubado meu blog ou, pior, que eu havia sido abduzida por aliens tarados.
Não, galera, eu ainda sou eu e Pé na Jac ainda é meu e o petróleo ainda é nosso.
Pra descontrair, além do texto anterior, algumas foticas...


Animalzinho de estimação que o supervisor em meu último trabalho, no Gabão, tinha em seu escritório


Emprestando o quad do supervisor. Moçambique

Vida de Filha Expatriada

As maioria das pessoas pode apenas imaginar que a vida de expatriados, longe de seu país, seus amigos e sua família, seja difícil. Mas a cruel verdade é que só quem realmente vive essa realidade sabe quão complicado é.
Sobretudo para nós, mulheres.
O relacionamento mãe-filha expatriada é complicado e às vezes tenso. A comunicação nem sempre é clara. Afinal, como é que a gente vai conseguir falar da novela se nem passa aqui?
E não, mãe, eu não ouvi a trovoada que deu essa noite.
Um dos tópicos prediletos das mães, e que também é impossível ser acompanhando por nós, figuras ciganas, são as promoções do supermercado. Diálogos como o que vou escrever aqui são muito comuns entre minha progenitora e eu:
- Oi mãe, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Comigo tudo legal. E o pai, como vai?
- Seu pai vai bem. Ontem ele... JAQUE, sabe quanto tá o arroz no ABC?
- Não, mãe, eu não faço idéia de quanto esteja o arroz no ABC...
Nesse momento qualquer tentativa minha de saber sobre meu pai, meus irmãos ou meus cachorros será em vão. Minha mãe acha esses assuntos secundários, enquanto o preço do arroz no ABC é algo de vital importância, capaz de determinar os rumos da história da humanidade.
No mesmo tom de alarme com que me fez a pergunta, ela me informa o valor do arroz. Claro que ela ignora o fato de que eu não moro no Brasil há quase 3 anos, que não recebo em reais, que não faço compras em reais, e pra falar a verdade eu não sou capaz nem de dizer quanto custa o arroz no país que eu moro. Ela diz o preço do arroz no ABC e espera de mim uma reação, mas eu não tenho idéia do que lhe dizer: “nossa mãe, que caro!” ou “nossa, mãe, que barato!” ou “nossa, mãe, que número randômico!”
Como mãe é tudo igual, não seria apenas a minha a me presentear com seus longos monólogos entoando a lista do supermercado. Eu conversava com a Paulixta por msn enquanto ela pacientemente ouvia de sua mãe todas as promoções do mercadinho de Diadema. Claro que eu estou simplificando aqui a situação, apenas falando do preço de um produto em um mercado. Mas nessas conversas as mães nos presenteam também com as variadas marcas, em diferentes mercados, que poderiam gerar infinitas combinações para serem usadas nas aulas de Estatística das faculdades de Engenharia.
Foi quando eu pensei – por que os mercados não fazem algo para ajudar este já complicado relacionamento?
Senhores donos de mercado que têm mães, ajudem a esta pobre criatura a manter um diálogo plausível com sua genitora.
Em lugar de variar os preços nas promoções, variem peso ou volume!
Afinal, moeda muda, câmbio flutua, governo se mete... mas unidade de massa e de volume ficam!
Já imagino como será fácil conversar com minha mãe se os donos de supermercados ouvirem meu singelo pedido...
- Oi mãe, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Comigo tudo legal. E o pai, como vai?
- Seu pai vai bem. Ontem ele... JAQUE, sabe qual a promoção do arroz esta semana no ABC? 1.3kg!!!!
- Caraca, mãe! Que barato! Comprou estoque até o Natal, né?
- Claro! Uma promoção assim não se desperdiça! Mas olha o absurdo... o leite baixou 200ml!!!
- Mas mãe, meu pai nem toma leite....

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Sistema Penitenciário Revisto

Gente, é sério, pra que serve o sistema penitenciário no Brasil?
Vamos lá, passo-a-passo. O malandro...
1. Comete o crime
2. É preso
3. Vai a julgamento
4. Recebe a punição
5. Paga sua ‘dívida com a sociedade’
6. Está pronto para ser reintegrado a esta

Mas o que acontece hoje no Brasil entre os números 3 e 6? Em que parte de ser colocado no meio de outros criminosos durante alguns anos, sem ter que trabalhar, sem estudar, sem fazer nada diferente de “dormir-acordar-comer-banho de sol-visitas conjugais”, o sujeito está sendo reintegrado à sociedade? Em que ponto exatamente nosso sistema penitenciário está atuando para que, quando saia, esse sujeito não volte a cometer crimes, ainda piores?

Tem uma boa galera no Brasil a favor da pena de morte. Bem, eu sou contra. E antes que os radicais venham me chamar de ‘defensora dos direitos humanos que não enxerga a realidade’ e venham desejar que algo de ruim aconteça a alguém da minha família para que eu ‘sinta na pele’, ou que os defensores dos direitos humanos queiram me adotar, me deixem explicar....

Bandido não tem medo de morte. Aliás eles são muito mais íntimos da morte que de um professor de geografia ou de concordância em gênero, número e grau.
Qualquer um que resolva ganhar a vida usando uma escopeta sabe que sua vida tem chances muito grandes de ser curta. Não pela atuação da polícia ou da justiça, mas pelas guerras de tráfico, tomadas de comando e coisas do tipo.

Bandido não tem medo de morrer.
Bandido tem é medo de trabalhar.

Então, vai aqui minha proposta para renovar o Sistema Penitenciário do Brasil.

Construir presídios de segurança máxima no Acre, Roraima e Rondônia. Bem ali na linha do Equador. Grandes presídios-fazenda na parte menos habitada do país. Bloquear sinal de celular não será um problema.
Horários pré-estabelecidos para todas as atividades, que serão obedecidos.
Seis da manhã os malandros são levados para o roçado.... e passam o dia arando, plantando e colhendo sua própria comida. Uma parte dessa comida será enviada para a família do detento.
O que for plantado a mais será distribuído gratuitamente às populações carentes da região. E assim também o Governo não precisará mais se “preocupar” em criar programas como bolsa-família e afins.
Os defensores dos direitos humanos estarão livres para ajudar na reintegração destas pessoas à sociedade, oferecendo aulas gratuitas dentro do presídio para que quando saiam possam eles trabalhar em alguma coisa.

Quero ver se a ameaça de passar 6 meses roçando terra sob o calor úmido da nossa Região Norte não vai desencorajar de maneira muito mais efetiva aquele moleque que pensa em roubar seu par de tênis.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sistema Penitenciário - Ame-o ou Deixe-o

No próximo post, uma visita ao sistema penitenciário do Brasil. Visita só em texto mesmo que eu não tô louca de entrar num lugar desses!

Uma Experiência Própria

Devido ao trabalho que tenho, minha visão do mundo é muito mais baseada em prática que em teoria. Já trabalhei com gente de meio mundo, podem nomear aí: brasileiros, argentinos, bolivianos, colombianos, equatorianos, venezuelanos. Filipinos, mexicanos, jamaicanos, americanos, canadenses. Ingleses, franceses, escoceses, portugueses, noruegueses, espanhóis. Nigerianos, sul-africanos, gaboneses, moçambicanos, angolanos, tunisianos, argelinos, sauditas. Chineses, tailandeses, australianos, japoneses, neozelandeses. Até uma mongoliana já conheci.
A lista segue, quem não vai seguir sou eu que afinal o objetivo deste post não é mostrar que eu conheço gentílicos.
Apenas queria dizer que podem criticar minha visão por qualquer coisa, até de ser de uma capitalista barata (o que não é verdade, eu sou uma capitalista carérrima), mas não de ser limitada e fechada a uma realidade puntual.

Atualmente eu vivo na República do Congo. Uma ex-colônia francesa que celebrou este ano, 2010, seus 50 anos de independência.
É definitivamente muito pouco, e eles ainda pensam como colônia. O sentimento de nação na África é algo que ainda não foi desenvolvido. Mas isso será assunto para uma página do Diário, não agora.

Antes do Congo, falando apenas de petróleo, foram quatro anos trabalhando no Brasil (com eventuais operações em outros países da américa latina), e dois anos vivendo e trabalhando no Reino Unido.

Quando então cheguei ao Congo o choque de realidade era inevitável. Porém eu já estava preparada para ver diferenças gritantes no cotidiano, nas horas livres. No trabalho, visto que eu estaria na mesma empresa cujo sistema de avaliação de qualidade de serviço é uma política mundial, e também os procedimentos para cada tipo de trabalho, imaginei que a diferença não seria tão grande. Menos organização, sim, mas nada mais que isso.
Claro que me enganei redondamente, senão vocês nem teriam lido o parágrafo acima.
Além da falta de organização generalizada, no Congo eu me deparei com situações que jamais imaginei ver nesta companhia – ou, pelo menos, se visse seria um caso isolado, não regra geral.
Procedimentos não são seguidos, trabalhos nunca são terminados, funcionários “desaparecem” logo no início do dia para só reaparecerem, tranquilamente, quinze minutos antes de terminar o horário de trabalho. Equipamentos sem manutenção são enviados para trabalho, testes de equipamentos são ignorados ou, pior, falsificados. Incidentes e acidentes são ocultados.
Ninguém nunca é responsabilizado por problemas, por maiores que sejam.

Se você mora em Marte e não tem uma boa recepção de TV, então talvez seja novidade ler que exploração de petróleo é um trabalho arriscado que, se executado de maneira irresponsável e sem planejamento, pode resultar em acidentes catastróficos não apenas para quem está no trabalho, como para toda a sociedade.
Preciso escrever Deepsea Horizon pra que faça sentido o que eu disse acima?
Façam depois pesquisas sobre Piper Alpha e Exxon Valdez, ou, se quiserem exemplos brazucas, plataforma P-36 e plataforma de Enchova.

Para evitar estar em jornais pelos motivos errados, ou numa entrevista com São Pedro antes da hora, respeito a procedimentos e planejamentos é vital. Também é muitas vezes chato, mas não deixa de ser vital. E cada incidente e acidente, por pequeno que seja, deve ser relatado e investigado, para descobrir causas e evitar novos.

O que acontece no Congo, então?
Acontece uma perigosa mistura de preguiça generalizada com gerência conivente. Então se alguém não trabalha, não aparece, não faz o teste como deveria ser feito, não realiza a manutenção de um equipamento... nada lhe passa.
Se isto resultar num incidente ou mesmo um acidente, nada é relatado. Nada é investigado.
E não há nenhuma espécie de punição para isto, nem sequer uma reunião a portas fechadas para discutir o problema.

Qual é o efeito disso?
Todos se portam da mesma maneira. Mesmo entre os que não são do Congo, a maioria adotou esta filosofia de não trabalhar e não assumir suas responsabilidades.
E por que seria diferente?
Ao final do mês, todos têm seus salários. Independente de terem ou não trabalhado, feito ou não as coisas da maneira como deve ser. E para os que fizeram corretamente sua parte, a única coisa que receberão a mais será.... mais trabalho!
Não é assim no socialismo?
Os esforços são para o ‘bem comum’. O que é muito bonito de se falar, só não funciona. Em muito pouco tempo os esforços terão se reduzido ao mínimo.

Riqueza é criada no setor privado através de produtividade. O Governo não pode criar riqueza, assim ele a confisca, consome, e redistribui. Porém quanto mais o Governo confisca de quem produz, mais desencoraja a produção.

E o que temos hoje no Brasil? Os ‘injustiçados’ recebem promessas do Governo de grandes recompensas através de seus programas. Em lugar de serem motivados a produzir, a ajudarem a si mesmos, são encorajados a esperar em suas casas pela ajuda governamental.

O Governo de um país não deveria ser uma empresa de caridade. Como a gerência de uma empresa não pode ser como a avó boazinha que sempre dá balas para seus netos travessos.

Socialismo no dos Outros é Refresco

Há um texto que circula pela net e trata de um certo experimento socialista que se deu em uma classe de economia na Universidade Texas Tech. Não sei se isso realmente aconteceu, mas vamos supor que sim... Leiam:
============================================

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira. Essa classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e "justo".
O professor então disse: "Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe e, portanto, seriam "justas". Com isso ele quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significava que ninguém seria reprovado. Isso também queria dizer, claro, que ninguém receberia um "A".
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do "trem da alegria" das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como resultado, a segunda média das provas foi "D". Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um "F". As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, a busca por culpados, e os palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca dos alunos por "justiça" tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades, e o senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Assim, todos os alunos repetiram o ano.
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado. "Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando se eliminam todas as recompensas ao tirar coisas de uns sem seu consentimento para dar a outrem que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável"

============================================

Claro, o fato de eu ter colocado um ‘vamos supor que sim’ vai ser a munição para eventuais socialistas que dirão que estou usando uma história fictícia para confirmar uma tese só minha. Então tá... no próximo post, uma experiência real, vivida por mim.

Até lá!

Politicando

Os próximos textos não farão parte do Diário, são apenas textos sobre políticas e idéias já que as eleições estão próximas mas eu estou longe.

domingo, 5 de setembro de 2010

Waka Waka

Is Time for Africa

Meus dias na África do Sul se extendiam graças a atrasos nos trabalhos em Moçambique. E certamente não seria eu a reclamar do assunto!
Um fim-de-semana a mais, e tantas possibilidades! Eu já havia feito o tour pela cidade e visto tubarões, mas ainda havia safáris, praias, visitar uma ilha de focas...
Peraí, eu disse ilha de focas? Disse, disse sim. Afinal, por que pensam vocês que há tantos tubarões-brancos aqui? Porque este lugar é como um grande self-service para essas amáveis criaturas, que adoram um sushi de foca fresquinho.
Meu destino: Hout Bay, onde simpáticos barquinhos de fundo de vidro levam serelepes turistas até o que é conhecida como Seal Island. E não é do cantor que estou falando!
À espera da partida do barco que me ajudaria a tirar mais fotos para minha National Geographic particular, eu observava os patos que mergulhavam na baía. E vou dizer uma coisa: ou os patos da África do Sul são os melhores praticantes de apnéia do Universo, ou formam uma comunidade maníaco-depressiva que se desloca até Hout Bay para cometer suicídio! No espaço de 30 minutos eu vi uma dezena mergulhar, e nenhum voltando.
A viagem até a ilha não dura mais que vinte minutos – mas são vinte minutos de muita água entrando no barco, graças à velocidade deste e às ondas à entrada da baía. Eu achei um barato, mas a tia que tava do meu lado e tomou uma jatada de água na cara não concordou...
A ilha é tudo que se pode esperar de um lugar habitado apenas por focas. Focas tomando sol, focas nadando sozinhas, focas nadando em pares, focas mergulhando, saltando. Teve uma que tentou um duplo twist carpado e estou certa que só não ganhou o 10 dos juízes porque ninguém teve a decência de tocar Brasileirinho na hora!
Confesso que continuo na dúvida se as focas são os animais mais fofuxos do planeta ou apenas cães d’água fanhos. Mas as fotos e vídeos pagaram toda a viagem!
Claro que se alguém aí quiser comprar as fotos e vídeos eu também não vou me fazer de ofendida...

Voltamos a terra firme próximo da hora do almoço, e agora eu vou pedir licença aos relatos estilo Animal Planet para falar um pouco sobre como é comer fora de casa quando você é vegetariana e brasileira.

Muitas pessoas me perguntam como eu conseguia ser vegetariana no Brasil. Suas mentes condicionadas pelas centenas de churrascarias-rodízio espalhadas pelo mundo estampando em seus outdoors Cozinha Brasileira os faz pensar que quando o jornaleiro não tem moedinhas à mão ele nos dá um pedaço de picanha de troco quando compramos O Globo.
Na verdade, não há a menor dificuldade em ser vegetariana no Brasil e acompanhar seus amigos em um almoço no Porcão. Sempre há uma grande variedade de saladas, sem contar o queijo na brasa e o pão-de-alho.
Difícil mesmo é encontrar uma opção que seja em restaurantes de frutos-do-mar que não leve pelo menos um camarãozinho!
Eu até entendo o pensamento deles. Por que diabos alguém vai se sentar num lugar cheirando a peixaria, se não for pra comer peixe?

O problema é que em Hout Bay há apenas um restaurante.
Adivinhem do quê?

Jaqueline Costa

Fruto-do-mar só Banana-D’água

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Tubarãããããããããããããão!

Reproduza Aqui Sua Própria Versão da Musiquinha do Filme

Depois de algumas semanas no meio do nada moçambicano, o povo ficou com pena e me deu alguns dias de descanso em Cape Town, África do Sul.
Mentira. Só me mandaram pra lá porque um dos trabalhos atrasou. Mas a razão era o que menos importava. Importante mesmo é que eu estava em Cape Town!
Logo de cara me apaixonei pela cidade. E o amor foi mútuo, Cape Town me recebeu com um lindo dia azul, sol na medida certa, e o mar de fazer inveja a Arraial do Cabo e adjacências!
A cidade que abriga o Cabo da Boa Esperança é tudo que um carioca sempre quis – praias lindas, montanhas, belas paisagens, cerveja gelada, pessoas simpáticas, turismo de aventura e auto-estradas planejadas de acordo com as do Rio de Janeiro. Faltou só o Romário jogando futvolei pra eu começar a falar em carioquês com os capetownianos.
Eu não sabia exatamente quantos dias teria na cidade, já que a qualquer momento eles poderiam me mandar de volta pra Moçambique pra terminar o trabalho. Assim já no primeiro fim-de-semana marquei um tour pela cidade no sábado, e um mergulho no domingo. Não um mergulho qualquer...
Sábado bem cedo o guia veio me buscar no hotel. Começamos com algo light, o centro da cidade, porto, o estádio construído para a Copa. Depois uma visita a uma reserva de... pinguins!
Sim, há pinguins na África. Lembrei imediatamente dos ‘Pinguins de Madagascar”. Kowalski!
A visita ao Cabo da Boa Esperança é de lei. O ‘Ponto mais Sudoeste da África”. Tá lá escrito!
Visitar o Cabo da Boa Esperança é lembrar das aulas de história do primeiro grau, quando fazia muito mais sentido chamar aquilo de Cabo das Tormentas, porque era isso que acontecia no nosso cérebro quando tentávamos manter tantas datas e nomes na mente.
E pra quem um dia já se perguntou, Cape Town está a seis mil e cinquenta e cinco quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. Se você nunca se fez essa pergunta o problema é seu, a resposta já está aí.
Espero que seja útil naquelas sexta-feiras sem ter o que fazer quando alguém saca de debaixo da cama o jogo Master. Já que o “Jogo do Milhão” o Sílvio desistiu de fazer.
Mas o sábado foi assim, tranquilo e terminando na praia, como deveria ser. Nada muito cansativo, já que para o domingo eu sairia às quatro da manhã para o passeio principal do fim-de-semana.
Quem é a tarada que sai de casa às quatro da manhã para passear, vocês se perguntam... bem, Jaqueline Tarada, muito prazer!
Meu destino estava a mais ou menos 3 horas de distância em carro de Cape Town. Uma pequena cidadezinha chamada Klenbaai, conhecida como a Capital dos Tubarões Brancos!
Agora um breve resumo sobre estes adoráveis animais: conhecido como o grande caçador dos mares, o tubarão branco já nasce com, em média, dois metros e meio, e pode atingir até sete metros quando adulto! Uma perfeição em termos de aerodinâmica, sua pele já foi usada como inspiração para maiôs high tech de nadadores profissionais, diminuindo o atrito com a água e aumentando a chance de quebrar um record. E são tão selvagens que até hoje não foi possível expô-los em aquários – em todas as tentativas o animal morreu ou foi solto para que não morresse.
Ou seja: vocês podem correr o mundo olhando lindos painéis vítreos e conhecer milhares de espécimes marítimos, mas pra ver o branquinho, tem quer fazer que nem eu: ao vivo, a cores e sem pipoca!
Após uma breve explicação de como seria o passeio, recebo dos guias um contrato para assinar. Assim, só de onda, resolvi dar uma lida. O contrato regia os termos do passeio, valores, e um termo de responsabilidade, que dizia mais ou menos Eu, Jaqueline Costa, sou louca o suficiente pra mergulhar com tubarões brancos mesmo sabendo que esse bicho adora um pedacinho de carne viva e, caso eu perca um braço, uma perna ou a vida, não vou ficar magoada com meus guias.
Assinei o tal contrato, peguei minha jaqueta e salva-vidas, e pulei no barco!
Foram mais ou menos 30 minutos navegando até o ponto em que iríamos lançar a isca. Mais uma vez, a sorte estava ao meu lado, e a visibilidade da água era perfeita: era possível ver o fundo do mar, a 10 metros, de dentro do barco.
A idéia é simples e maravilhosa: uma gaiola de metal presa ao barco por um cabo, onde ficamos. A gaiola tem mais ou menos uns três metros de altura, e, destes, trinta centímetros ficam acima d’água, permitindo-nos respirar, e mergulhar estilo apnéia. Os marujos atraem os tubarões jogando no mar sangue de peixe, e com uma cabeça de atum presa a uma corda eles tentam fazer com que os delicados peixinhos se aproximem da gaiola.
Claro que uma pessoa mais atenta iria olhar para a gaiola e pensar: se houver um problema com o cabo e a gaiola cair no mar, ela irá direto para o fundo. As pessoas ali dentro não usam cilindro de ar, o que significa que se tiverem bom fôlego, vão aguentar no máximo uns três minutos. E com o mar infestado de tubarões excitados pelo sangue na água e a cabeça pululante de atum, ninguém se atreveria a mergulhar pra ajudar.
Uma pessoa mais atenta. Eu não. Eu estava ocupada procurando tubarões!
Não demorou muito até o primeiro filhotinho aparecer. Um filhotinho de 3 metros. Seguido por outro e outro e outro – o primeiro acabou sendo o menor que avistamos naquele dia.
Vocês querem saber se eu tive coragem de entrar na gaiola? Crianças, complicado foi me convencer a sair dela!
Mas infelizmente a brincadeira chegara ao fim – depois de animadíssimas 4 horas fotografando extasiada esses bichinhos, ouvi o capitão avisar que era hora de voltar para terra.

Voltar para terra com muitas fotos e mais uma página para o Diário.

Jaqueline Costa
Ainda Tem Muita História Pra Contar

domingo, 13 de junho de 2010

Mama África

Meu Primeiro Contato Africano

Quem tem acompanhado direitinho estas aventuras, lembra que na página 42 eu fiz um salto espaço-tempo e contei que já não trabalho mais na Escócia. Deixei de lado as buscas infrutíferas pelo monstro do lago e optei por safáris reais e muito mais radicais.
Meu primeiro trabalho no continente africano foi em Moçambique.
A capital de Moçambique, pra quem não sabe, é Maputo. Daria milhões de piadas se eu tivesse sequer passado por lá.
Não, meu destino era mais, digamos, selvagem. Era tão no meio do nada que GPS não funcionava.
O que não chega a ser uma diferença grande na minha vida, já que eu sempre fui uma perdida.
O legal da minha estadia em Moçambique foi a interação com os locais – tendo um idioma de vantagem sobre os gringos, eu pude ouvir as histórias mais engraçadas da viagem.

Cheguei a Moçambique por um aeroporto alternativo. Era tão alternativo que não me impressionaria se o fiscal vendesse maconha. Depois das formalidades alfandegárias – que se resumem a pagar 20 dólares pra ter um visto – entramos na van que nos levaria floresta adentro até o campo em que iríamos trabalhar.
Vocês não leram errado nem eu exagerei na última frase.
A van era dirigida por Maurício. Um dos sujeitos mais engraçados que já conheci.
Nas duas horas que separavam o campo do aeroporto, Maurício me contou uma boa parte da sua vida. Entre outras histórias, me revela Maurício que tem 18 irmãos!
Novamente, meus caros: vocês não leram errado nem eu exagerei na última frase.
Quando boquiabertíssima perguntei “como”, ele me disse que seu pai era muito romântico... até tinha uma fita do Roberto Carlos!
Ah, assim sim, tá explicado...
Maurício também se dizia um homem muito romântico. E que um dia teve uma namorada italiana linda que apareceu em Moçambique. Segundo ele, a ragazza ficou tão apaixonada que queria levá-lo com ela pra Itália de qualquer modo. E ele só nao foi porque teve medo do ex-namorado italiano dela, que era feiticeiro.
Eu não quis ofender meu amigo dando uma sonora gargalhada.

Minha estadia em Moçambique teve seus percalços. Um calor da porra por lá, e eu estava no meio da roça - se é que em Moçambique existe alguma coisa que não seja roça. Enfim. A poeira grudava que era um espetáculo, me obrigando a lavar a cabeça todos os dias. Obviamente, não havia trago comigo o estoque de shampoo e condicionador necessário a estas condições climáticas.
Fui até o povoado que eles chamam de cidade para comprar artigos de 1a necessidade - um par de havaianas, sabonete.... condicionador?
Claro que não há aqui, sendo o AQUI do tamanho da África, o condicionador q eu uso. Mas eu precisava de ALGUMA coisa. A simpática dona da vendinha me mostrou um lá qualquer. Ok, beleza, era pra cabelos normais. Embora pela minha mente tenha passado a pergunta 'normal pra quem?', fiz que iria levar.
Aí a moça, super solícita, fala “esse é muito bom”.
Eu: “ok, vou levar”.
Ela continuou: “é muito bom sim. EU USO ESSE”.
Aí eu olhei bem pro cabelo dela........... e eu pergunto, nessas horas, você faz o quê? DEVOLVE?

No acampamento em que eu estava havia um quadriciclo. Depois de alguns dias de trabalho, tendo feito amizade com o bigboss do acampamento, já podia usar o quad pra dar uma volta pelo mato e procurar algum bicho para fotografar. Qualquer coisa serviria, mas depois de dias andando pelas mais diferentes trilhas, os únicos bichos que se aproximaram foram os mosquitos. Cheguei à conclusão de que meu repelente devia ser pra bicho grande...

Aliás, meu spray anti-insetos definitivamente não estava funcionando. As moscas até pareciam ficar mais alegrinhas quando tomavam uma jateada do tal veneno. Resolvi apelar. Usei WB-40.
Recomendo fortemente.

Jaqueline Costa
Hakuna Matata

domingo, 9 de maio de 2010

Só ilustrando o post anterior...


Catedral de Köln


Sim, eu SUBI


A Pequena Infante, fazendo graça com as correntes e cadeados da ponte de Köln

Das Schukrute!

Cerviajando pela Alemanha
Resolvi aproveitar a estadia da Pequena Infante comigo e os dias livres que tirei para com ela ir visitar uma cara amiga que com seu marido se mudou do Brasil para a Alemanha. Quer dizer, cara amiga ela era quando vivia no Brasil. Agora em terras germânicas respirando em euros, diria que seu status está próximo da extorsão.
Voamos de Apertinho a Paris, pela Air France. Ou Air Chance, por que sempre há uma chance de:
a) Eles perderem sua bagagem
b) Seu vôo atrasar
c) Seu vôo ser cancelado
Depois de girada a roleta, nos coube a alternativa C. Assim que em lugar de sair do Reino Juntinho em direção à cidade-luz no sábado à noite, fomos remanejadas para o domingo de manhã. Bem, faz parte. Tirando o aborrecimento e o fato de ter de conseguir novos tickets de trem para a terra da cerveja (gelada, nós esperávamos), tudo estava bem.
Nosso destino era Köln, ou Colônia, pitoresca cidadezinha alemã de que todos já ouvimos falar mas nunca sabemos porque. Depois de muito puxar pela memória, alguém aí certamente vai pensar nas Águas de Colônia. E vai descartar imediatamente achando que foi uma associação estúpida.
Foi não. São de lá mesmo.
O interessante de se viajar de trem é que você percebe claramwente a mudança na arquitetura quando sai de um país e entra em outro. Tá, tudo bem, essa mudança não é tão aparente na fronteira França-Bélgica. Aliás, considerando a continuidade na arquitetura, o gosto por queijos e que o idioma é o mesmo, eu sou pessoalmente a favor de que a França anexe o país vizinho.
Qualquer um que já tenha jogado WAR vai concordar que isso simplifica a geografia e a vida do Exército Azul.
Uma vez na Alemanha, no entando, o câmbio salta aos olhos: as torres ficam mais pontudas, os tijolinhos vermelhos se reproduzem qual gremlins sob as águas de março, e os pastores alemães latem com sotaque.
Já em Köln, tendo sido cortesmente recebidas por meu casal de amigos na estação de trem da cidade, e após largar bolsas e malas na casa deles, passamos para o reconhecimento de terreno, atividade que pra ter graça tem que ser a pé.
E pra ter mais graça aiinda você tem que perguntar a história da cidade pra sua amiga, que ainda não sabe direito.
Mas quem acha que Köln apenas tem as tais águas para oferecer, engana-se germanicamente! Você também pode desfrutar de um gostoso passeio à beira do rio, divertir-se lendo inscrições em cadeados e correntes presos a uma ponte por casais enamorados, numa tradição que remete à cidade italiana de Florença e a ponte Vecchia (não me perguntem QUE cidade começou a brincadeira. Eu não saberia dizer. Nem minha amiga, creio. Mas aposto na Itálila). E uma igreja em estilo gótico, a catedral de Köln, que abriga em sua torre o maior sino do mundo. Pena que para vê-lo você tenha que galgar os quinhentos e trinta e três degraus da igreja.
E se vocês pensam que o fato de eu ser manqueta, ter brownquite, a torre da igreja ser aberta e estar chovendo impediu a escrota da minha amiga e a corna da minha irmã de me arrastarem escadaria acima, HÁ!
Definitivamente está na hora de rever meus relacionamentos.
A surpresa maior veio quando, alcançada a tal da Torre e após a pausa para me despedir oficialmente do meu pulmão, pedimos ao tiozinho que na guarita ficava vigiando o sino gigantesco (não sei se para ele não fugir ou medo de alguém querer levar um souvenir de trocentas toneladas no bolso. Lógica alemã nem sempre é simples de seguir) que tirasse uma foto nossa – e o simpático senhor nos responde em português, com aquele sotaque carregado vindo d’além mar e ‘trás dos montes!
A raça lusitana é definitivamente uma praga...

Jaqueline Costa
Chegou à conclusão que cerveja boa é a nacional. Da Alemanha

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Viajando com Crianças no Banco de Trás

A Pequena Infante na Europa

Minha Pequena Infante, como todos sabem (ou deveriam saber) não perde uma oportunidade de me ver, especialmente se aliado a isto estiver conhecer um lugar novo e completamente diferente.
Eu me concentro na parte de que ela não perde uma oportunidade de me ver.
Marcadas suas férias para o outono europeu, e tudo que ela pediu foi conhecer uma destilaria de whisky e uma visita à Eurodisney. Qualquer coisa além ela iria tratar como bônus. E assim foi.
Infelizmente nem tudo é um mar de rosas no mundo do petróleo, e dois dias antes da Pequena pisar em solo europeu, eu fui mandada para outro trabalho offshore. Mas como quem tem padrinho não morre pagão, e quem tem amigos não morre pagando, consegui que a visita à destilaria fosse feita já no seu primeiro fim-de-semana aberdoniano.
Por razões óbvias, não posso dar detalhes do assunto. Quem quiser, pergunte à própria. Acho que vergonha demais ela não fez, já que nem na delegacia ela foi parar.
Volto de meu trabalho e depois de algumas incursões aos pubs característicos de Averdinho, e depois de alguns dias fazendo a jaca de pantufa, pegamos o valente Pumba e seguimos estrada rumo Norte. Destino: Inverness e mais uma busca ao monstro do lago...
Enquanto esperávamos o barquinho que nos levaria à caça no lago, minha irmã comenta sobre o cheiro que sentia das águas do pier: “aqui deve ser o banheiro do monstro!”
Bem, como vocês já sabem (se não sabem, olhem as páginas antigas) eu já havia feito esse tour pelo lago, e embora tenha visto muitos monstros escoceses já, ainda não encontrei nenhum na água. Então quando o barquinho fez sua parada para a visita ao castelo de Urquhart (palavra que no dialeto dórico usado na região significa “caralho, minha garganta dói quando eu falo isso”) que fica às margens do lago, ao descer no pier apontei para a moderna construção no alto da colina e disse:
- Sabe, pelo certo a gente deveria ir láááá em cimia para comprar as entradas para o castelo...
Minha irmã, usando sua lógica que lhe dizia que
1. Isso não faz sentido, uma vez que não há ninguém na porta do castelo pedindo entradas
2. O castelo fica para o outro lado
3. Eu sou uma puta sacana
Imediatamente replica:
- Claro que não, Jaque.... as entradas estão inclusas no preço do passeio...
Eu, que já então vivia havia quase 2 anos em terras highlandesas e já conhecia o jeito deles, falei:
- Não, é sério.... olha.... leia a plaquinha na saída do pier... e perceba que as pessoas vão subir...
Minha irmã olhava atônita. A placa, é verdade, diz que para comprar as entradas para visitar o castelo há que ir para o pequeno centro turístico no topo da colina. Mas não há ninguém checando isso, nem na saída do pier nem na entrada do castelo.
- GEEEENTE.... e o povo vai!!!!
Bem, como eu disse pra ela, a primeira vez eu não fazia idéia, só atentei para a placa no pier quando já estava de saída. Entrei sem pagar, mas foi sem intenção.
A segunda vez já foi para manter a tradição.
E a minha dignidade marginal.

Jaqueline Costa
Um dia toma vergonha. Por enquanto, só cerveja

sábado, 3 de abril de 2010

BereNice

Duas Brazucas na Riviera

Não por escolha minha, a estadia da Paulixta em minha casa chegava ao fim. Para findar em grande estilo, e já que ambas somos loucas por água, praticamente seres marinhos (quem falar baleia estará automaticamente cortado do diário e adicionado à Lista Negra da Jackie), procuramos uma praia para passar o último fim-de-semana.
Não tínhamos muitas opções – ela tinha o vôo de volta para casa saindo de Paris, e se tentássemos algum roteiro mais ousado, perigava passarmos mais tempo nos aeroportos que tostando ao sol europeu. Então nos acenava simpaticamente a Riviera Francesa. Como eu já conhecia Marselhe – desculpem se minha personalidade globalizada lhes agride – optamos por Nice. Malas prontas, biquinis a postos, seguimos então para nosso encontro com o Astro-Rei e realizar um upgrade em nossos bronzeados.
Escala em Paris, como sempre. Uma escala um tanto apertada, mas não seria nada de mais. Não seria, se a fiscal do aeroporto tivesse ido com a minha cara. O que não foi o caso. Não sei se meu semblante a la talibã deixou a moça encucada, mas o fato é que ela resolveu tirar tudo da minha pequena maleta de mão, única bagagem que eu carregava. E por tudo eu quero dizer TUDO MESMO. Quase ofereci a ela uma chave de fendas pra desaparafusar as rodinhas....
Como eu disse, a escala era apertada. Ou seja que quando a moça se convenceu que eu não era uma mulher-bomba, ou pelo menos não no sentido literal da expressão, nós estávamos atrasadas. Enfiei as roupas do jeito que pude de volta na mala e saímos correndo para o portão de embarque. Ainda me pergunto se na pressa não deixei alguma lingerie de recordação pra fiscal. Felizmente para a saúde dela, nós conseguimos pegar o vôo e seguimos para nosso verdadeiro destino.
Agora, quem acompanha este diário desde os primórdios sabe que eu sou perseguida pela Maldição de Montezuma das viagens de avião, e que não é novidade para mim quando uma companhia aérea perde minhas malas. Mas por uma graça qualquer do Destino, todas as viagens feitas com a Paulixta foram incólumes, sem nenhuma ocorrência do tipo. Ela, claro, atribuiu tal fato à sua Sagrada Presença. Eu não contestei, afinal para que gerar outra rixa Rio-SP? Nös já temos as praias, a fama, o samba... acho justo que eles tenham sorte em despachar as malas.
Bem, chegamos a Nice. Embora minha bagagem se resumisse à pequena e naquele momento zoneada maleta de mão, a Paulixta tinha toda as malas que havia trazido para a Europa, turbinadas com as comprinhas feitas nas viagens. Fomos então para a esteira coletar suas coisas.
Que não chegaram....
E agora, um minuto de silêncio para apreciar a beleza que mora na ironia do Destino.
Já versada no assunto, segui com ela para o escritório da Air France. Descrevemos a bagagem perdida, deixamos o endereço do hotel que ficaríamos, pulamos num táxi e seguimos para o tal, afinal estávamos bastante cansadas e a fome era tanta que meu estômago pensava em abolir o vegetarianismo e comer um pedaço do meu fígado.
Deixamos no hotel minha solitária maleta e saímos em busca de um local para jantar. Escolhemos um restaurantezinho à beira do pier, e ali nos sentamos, vendo o movimento local. Eis que de repente minha Paulixta Preferida me olha e pergunta:
- Ainda estamos no reveillon??
Pois é... por algum motivo obscuro, ou obsclaro, 90% das pessoas estavam vestindo branco. Camisas, calças, sapatos, sandálias... pra tirar a dúvida sobre a data, esperamos até meia-noite pela queima de fogos.
O dia seguinte era de praia, claro. E bem aproveitado, eu diria. A paisagem era extremamente agradável, e a cerveja estava gelada. Nice é mais uma das cidades que justificam meu apelido de Excrota dado singelamente por meus amigos, baseado em fatos reais e lugares visitados....
Para dar mais munição aos meus diletos, resolvemos que aquela noite, assim, só de bobeira, iríamos jantar em Mônaco. Essa vidinha é muito chata mesmo.
Ir a Mônaco é o mesmo que entrar numa revista tipo Ricos e Famosos em 3D. Se você tem dinheiro apenas para comprar um Mercedes, não tente morar em Mônaco, você vai se sentir muito humilhado. Se a sua idéia de iate foi forjada em suas viagens a Angra dos Reis, não vá a Mônaco tampouco, poderia ter um infarto.
Encontramos um agradável restaurante com uma vista incrível do castelo, pier e ainda uma parte do circuito de Monte Carlo. Ali nos sentamos e, depois de babar mais um pouco com a paisagem, pedimos nossas tradicionais taças de vinho e começamos a falar sobre a cidade. Eu havia dito, logo que chegamos, que não sabia do que vivia Mônaco. Só a fórmula 1 e do tour de France, não sustentaria tanta coisa...
Entre uma taça e outra, a Paulixta manda:
- Você tem razão, Mônaco vive DO QUÊ? Não tem um reloginho, um jorro d’água, uma antena de rádio...
- É... só aquela cabaninha ali no mato onde se esconde a Stephannie...

A viagem infelizmente estava em seu final. Já fechando suas malas, a última dúvida de minha Amiga era com relação ao casaco pesado que ela tinha, já prevendo o frio que a esperava em sua volta ao Chile. Sem saber se o guardava ou não, ela me pergunta, inocente:
- E aí? Deixo o grosso na mão pra levar duma vez???
Só digo uma coisa.... não digo nada!!!
Jaqueline Costa
Vai colocar o diário em dia ... só não sabe que dia!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Por que tanto tempo sem escrever?

Nem uma mísera página? Por quê? Por quê?

Quase ouço a multidão inquieta clamando....
Gente, por favor, não me matem.
Não me desejem mal.
Não xinguem minha mãe.
Não chutem meu cachorro.

Eu tento explicar.
Fui para o Brasil, de férias. Um espetáculo que será contado nas páginas, um dia....
O único problema da viagem foi que me roubaram o celular - em São Paulo, não no Rio!!! A-há!
E daê, vão perguntar vocês.
Daê que eu tenho uma rara patologia - CABIN FEVER. Ficar em casa me dá micose.
As páginas q vocês lêem eu rascunho no celular qdo estou na rua, tomando cerveja, de frente pra praia. E depois só edito no liplop.
Ou seja, o fdp me roubou o celular levou as páginas seguintes..... e eu fiquei chupando dedo.
Agora tenho reeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeescrever......

Deus Salve a Rainha

Porque até um peão pode comê-la!

Pra quem estava achando estranho eu passar tanto tempo no Reino Juntim e nunca ter mencionado a capital, o lar da Rainha, sonho de consumo de qualquer estudante de inglês, a explicação é simples: eu nunca havia ido lá...
Mas dessa vez, tendo companhia e alguém para compartilhar as piadas, a viagem foi planejada e implementada.
Já no aeroporto de Aberdeen a diversão começa. Nos encaminhamos para o balcão da Easyjet e eu entrego os dois passaportes para a atendente, explicando em inglês para onde iríamos. E sigo batendo papo em português com a Paulixta. Percebemos que a moça por trás do balcão olha diversas vezes para as fotos nos passaportes e para nós. Uma grande interrogação estampada em seu rosto.
Bem, cabe aqui uma pequena descrição, para os pobres infelizes que não tiveram ainda a sorte de nos conhecer ao vivo: ambas somos morenas, de cabelos cacheados e sorriso sempre à mostra. Ambas usamos óculos, embora nos passaportes as fotos não mostrem isso. E temos mais ou menos o mesmo fenótipo (caraca! Falei bonito agora! Minha professora de biologia do segundo grau iria ficar orgulhosa de mim).
Finalizado este pequeno instante estilo bate-papo Uol, voltamos à programação normal.
Eis que a moça se dirige a mim, um dos passaportes na mão, e pergunta qual era o sobrenome ali.
Como até então apenas eu havia falado com ela, e a Paulixta passou todo o tempo falando em português comigo, ao ver que o passaporte não era o meu, apenas imaginei que a moça pensou que minha correspondente estrangeira da terra da garoa não dominava o idioma anglo-saxão. Respondi então: 'nesse aí é Vita'.
Qual não foi minha surpresa quando então ela pegou o meu documento e, olhando pra Paulixta, perguntou: 'E o seu é...?'
Mordendo a língua para não rir, minha amiga responde e nós seguimos para a sala de embarque, comentando a situação.
Passados os minutos normais de espera, nos encaminhamos para o portão de embarque e quem ali estava, conferindo os passaportes?
Ela mesma...
Perguntei à minha curintiana se deveríamos entregar os documentos separadamente, pra moça perceber o engano. Minha amiga, esta alma bondosa e bem menos sacana que eu, disse:
- Pra quê, Jaque? A moça vai ficar com vergonha. Entrega junto...
Assim fiz eu. Mas a figura nem abriu os passaportes. Olhou pra gente e disse:
- Vocês não precisam. De vocês eu lembro!
Lembrar, lembra, eu disse pra Paulixta. Só não sabe quem é quem...
Londres é uma cidade pulsante. Tem muito menos charme que sua rival francesa para o titulo de capital da Europa, mas tem certamente mais energia. Como chegamos já tarde da noite de sexta, depois de largar as malas no hotel já nos despencamos para Picadilly Circus, a fim de jantar e dar uma espiada no underground londrino. Espiada muito muquirana, porque o dia seguinte seria longo e tínhamos um compromisso mútuo de acordar cedo para não perder nada.
E lá estavamos nós, mais uma vez encarando o desafio CONHEÇA UMA MEGALÓPOLE EM UM DIA. Com algum fôlego e muita disposição, nos embrenhamos na selva britânica, tirando fotos do Big Ben, da ponte e da Torre de Londres, visitando o Museu de Madame Tussauds, com as obrigatórias fotos pagando mico ao lado das estátuas de cera, dando uma passadinha na casa de Sherlock Holmes, fazendo um mini-cruzeiro pelo Tamisa e ainda o circuito no turibus - em que o guia, tão logo entramos, perguntou a todos se éramos fãs dos Beatles. Para quem não fosse, dizia o dublê de comediante e xiita, melhor descer do ônibus.
Fiquei na minha. Vejam bem, não é que eu não seja fã dos Beatles. Eu nem tenho nada contra eles. Só não suporto é quando eles começam a cantar...
Mais uma vez, paramos no Hard Rock. Paulixta e eu temos uma meta sem prazo definido para ser cumprida (só de ser comprida) de conhecer todos os restaurantes da rede. E o de Londres é, simplesmente, o primeiro! Emoção pouca é bobagem...
Deixamos o dia seguinte, quando teríamos poucas horas livres antes de ir para o aeroporto, para nos despedirmos da cidade com estilo: uma volta no London Eye para ver a cidade de cima, e depois atravessar os jardins do palácio de Buckingham para tirar umas fotos da casa da Rainha.
Fomos até o London Eye de metrô, que, aliás, é outra peça na luta Paris-Londres, cada cidade jurando que o seu é melhor, é maior, dá 3 sem tirar de dentro. Eu sinceramente acho tudo isso infantil e dispensável, afinal o que vale é o prazer que a viagem lhe proporciona. Mas, se é para dar minha opinião, aí vai: o minhocão londrino é mais limpo...
Os operadores do metrô também são mais radicais, não diminuem nas curvas e parece que o descarrilamento está a um suspiro de você - muita gente nem respira nesses momentos que é, imagino, pra não levar a culpa. Mas não nós. Acostumadas com os intrépidos dos asfaltos brasileiros e suas performances em ônibus, táxis e na entrega da pizza, mais achávamos graça das manobras, até que a Paulixta decifra o problema: o tio não consegue estacionar! Ele tá com problema de baliza!
Por sinal, ela foi de metrô a contra-gosto. Desde a aventura em Paris que ela fala que esse povo da Europa é tudo tatu, porque entre a entrada das estações e o ponto de pegar o trem em si, a gente anda uma média de 15 minutos.
Chegamos ao London Eye, pra quem não sabe, uma puta roda-gigante que leva meia hora para dar um giro completo, e na qual é possível ver toda a cidade - se você tiver mínimas condições de visão.
Não era, obviamente, nosso caso.
Estava eu tentando usar o zoom da câmera para me ajudar a reconhecer os pontos, quando minha Paulixta me pergunta, mostrando mais uma vez como ela esta acima dessas ostentações pequeno-burguesas:
- Vai tirar outra foto desse reloginho?
- Na verdade, eu estou procurando o palácio de Buckingham...
- Ah, deve ser aquela casinha ali no meio do mato...
Ela realmente não se deixa impressionar facilmente.

Jaqueline Costa
Se recusa a comentar a troca da guarda, pois foi ao som de Copacabana

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Conhecendo a Helvécia

A Convenção de Genebra Adverte: A Leitura Deste Diário Pode Causar Danos Irreversíveis à Capacidade de Manter-se Sério
Outro fim-de-semana se aproximava, e a pergunta era: pra onde vamos desta vez?
Apertim não é exatamente generosa em vôos diretos, e dado que só tínhamos dois dias e meio à disposição, lugares como Grécia ou Polinésia Francesa estavam descartados. Para minha profunda tristeza, tenho que dizer.
Com uma gama restrita de opções, e uma vez que as praias da Grande Bethânia deixam muito a desejar, resolvemos por um destino neutro.
Suíça.
Aliás, mais neutro, impossível.
E assim desembarcaram duas brasileiras perdidas em Genebra. Pra comer chocolate suíço, fazer fondue de queijo suíço, ver as horas num relógio suíço e tentar assaltar um banco suíço usando um canivete suíço.
A Suíça, pra quem não sabe, já pertenceu ao Império Romano, à França e à Alemanha. Não surpreende serem tão neutros - qualquer briga que queiram entrar sempre vão estar contra alguém da própria família. A impassibilidade deles é tão latente que até mesmo o Brasil, se um dia quiser brincar de WAR, invade fácil o país e destrói todo o exército vermelho.
Mas se alguém aí foi a Paris e achou que estava no primeiro mundo, o dia em que pisar em Genebra vai achar que está num OUTRO mundo. O mundo de Forbes. Um lugar em que tudo funciona e eles falam francês, mas não fazem cara de nojinho quando você tenta estabelecer um diálogo em inglês.
E finalmente eu encontrei uma cidade da Zoropa em que as pessoas ESCOVAM OS DENTES!
Genebra tem como paisagens naturais os Alpes ao redor da cidade, e o famoso (pelo menos é famoso pra mim) Lago Léman, que tem 75 quilômetros de extensão, e passa por outras trocentas cidades, incluindo Montreux e Nyon. Na capital Suíça ainda é brindado com a maior fonte da Europa, capaz de cuspir 500 mil litros de água por minuto a impressionantes 140 metros de altura.
Já na primeira caminhada à margem do lago, minha Paulixta e Personal Engraçadinha manda a sua:
- Ah não! Esse lago é limpo demais pra ser de verdade! TENHO CERTEZA QUE É ARTIFICIAL!
Considerando o estado dos nossos Rio Tietê e Baía da Guanabara, ver um local de água não renovável como um lago apresentar águas transparentes realmente impressiona. Mas ponderei com ela que HAJA CIMENTO pra fazer uma piscina desse tamanho!
Ela alegou um financiamento da ONU.
O tour pela cidade era obrigatório, e passamos por todas as organizações, instituições e reuniões de gatos-pingados que ostentam MUNDIAL em seu status.
Ir à Suíça e não comprar um relógio é como ir ao Rio e não ter ressaca de caipirinha. Mas como em cada esquina da cidade há uma relojoaria diferente, os preços também variavam bastante. Numa loja em que os números não pareciam tão assustadores, ela me pergunta:
- Será que esses relógios não são falsos?
Eu, com minha lógica reversa:
- Ah, não. Eles são suíços! Não posso acreditar que suíços falsifiquem relógios suíços!
Não muito depois, atravessaríamos uma rua que não tinha semáforo, apenas a faixa de pedestres pintada. Reza a lenda que nesses casos a preferência é dos passantes, e que basta tocar o asfalto com o pé para que os carros parem. Minha Paulixta, conhecedora das leis de trânsito, caminhou segura e resoluta sem sequer olhar para os lados. Quando se deu conta de que eu não estava ao seu lado, virou-se para trás me buscando. Pergunta ela:
- Ow! Você não vem?
Começo a atravessar, falando:
- Estava esperando o carro parar
- Tem a faixa, eles tem que parar
- É, mas vai que não para?
- Ah, MAS ELES SÃO SUÍÇOS!
Ela até tem razão... MAS VAI QUE TINHA ALI NO MEIO UM LATINO EM FÉRIAS???

Depois de tão agradável fim-de-semana, voltamos à realidade aberdinense de curso e trabalho. Já em casa, olhando as fotos e selecionando o que iria para a internet, ela olha a que tiramos junto ao tradicional Relógio de Flores e lança a dúvida:
- Vai saber se isso estava certo...
- Claro que sim! É UM RELÓGIO SUÍÇO...
Depois, escrevendo legendas para que nossos amigos soubessem por onde passamos, minha amiga mostra todo o seu desprezo pelo materialismo mundano. Ela me pergunta sobre a fonte, aquela, a maior da Europa:
- Jaque, qual é o nome daquele jorrinho d'água mesmo?
Definitivamente, esta figura não se impressiona com bobagens...

Jaqueline Costa
Tem uma conta num banco de sangue suíço

domingo, 10 de janeiro de 2010

Edinburgh e a Maldição do Castelo

Como visitar várias vezes a mesma cidade sem nunca ir ao seu principal ponto turístico

De acordo com a programação feita na véspera, iríamos sair bem cedo naquele domingo. Seguir até Rosslyn e visitar a capela que serviu de cenário final para O Código Da Vinci, e, depois das fotos de praxe, procurar um lugar para fazer um piquenique. Depois, satisfeitos e bem alimentados, voltaríamos para Edinburgh, para uma passada no Hard Rock Cafe e visitar o Castelo de Edinburgh.
Como todo mundo sabe (quem não sabe é sinal de que não anda lendo as páginas do Diário), a Escócia é lotada de castelos. Pra onde se olha, há um castelo. E um cemitério, mas estes últimos eu não visito, não estou aí para ficar chiando I see dead people no ouvido da galera.
Alguns castelos não são mais que grandes casas de famílias ricas, e suas construções são nada mais que uma ode ao dinheiro sobrando. Outros, como o Castelo de Dunottar, foram importantes durante as guerras internas do Reino Juntim, e hoje suas ruínas servem para contar um pouco da história do local. Mas poucos nesta classe se encontram inteiros como o castelo da capital escocesa, e com todas as acomodações abertas à apreciação pública.
Bem, isso tudo eu apenas presumia. Nas duas vezes que havia estado na cidade, encontrei o castelo fechado, por motivos diferentes – na primeira vez, graças a uma apresentação que estava acontecendo em frente ao dito, e na segunda devido ao Military Tattoo Festival da cidade. Má sorte, fazer o que.
Saímos em dois carros – comigo viajavam El Maracucho e minha Paulixta preferida. No outro, uma família de amigos venezuelanos, e também Dago, o cachorro mais simpático da Escócia. A viagem foi super tranquila, apenas fazendo uma ou duas paradas para o cachorro esticar as pernas e pra gente fazer xixi no poste.
Depois de algumas entradas erradas graças a esta maravilha da tecnologia chamada GPS, sem a qual não poderíamos nos perder com tanta facilidade, finalmente subíamos o monte onde se encontra a capela. Confesso que olhava frequentemente para o lado, procurando o Tom Hanks. Vai que estavam filmando uma sequencia? Eu seria uma papagaia de pirata hollywoodiana!
Para minha desilusão, aparentemente Forrest Gump estava correndo em outras bandas. Enfim.
A capela, como toda igreja que se preza, estava em obras. Que ganharam um bom empurrão com essa propaganda bem-vinda feita, imagino que de graça, pelo Dan Brown. Não vejo motivos para que a igreja fosse visitada antes do livro e do filme. Agora, ela é chamariz de turistas. Que devem ficar um tanto frustrados (eu fiquei, pelo menos) quando não encontram a paisagem exatamente como aparece no filme. Mas as esculturas internas compensam.
Depois da visita e da obrigatória passagem pela lojinha de souvenirs (porque lembrancinha é pra quem não fala francês!), fomos procurar um lugar para o planejado piquenique. Confesso que planejar um piquenique na Escócia foi uma das atitudes mais otimistas que eu já tomei: afinal, era esperar ter pelo menos 2 horas sem chuva nas Highlândias o que não é exatamente comum, pode perguntar para qualquer McMoça do Tempo. Mas os planos tinha sido feitos e, caso uma chuva nos pegasse de sopetão, criaríamos um novo estilo de piquenique, o in-car. Mas nós fomos realmente sortudos e além de um dia bem agradável (não ensolarado, que aí já seria milagre), encontramos um belo espaço para relaxar, comer e dar boas risadas.
Dago, o super-cão, teve seu momento de glória, quando mostrou que seu dono é totalmente inapto a pegar a bolinha antes dele. BOLINHA DE TÊNIS, suas mentes sujas!
Já tendo feito a refeição, e a digestão em ritmo de moda de viola venezuelana, nos despedimos da família e seguimos, El Maracucho, Paulixta e eu, para Edimburgh. Como não era dia de apresentação alguma em frente ao castelo, nem época de Military Tattoo, estámos tranquilos. Assim, curtimos um chopp no Hard Rock, e um passeio pela cidade, que, diga-se de passagem, é bem interessante. Vale a pena a visita para qualquer brazuca que esteja perdido na terra dos McChatos.
Uma última parada para um café, já que calor interno ali a gente só consegue à base de bebida mesmo, e seguimos para o castelo.
Finalmente, eu disse a meus amigos, vou ver esse castelo por dentro. Já estava ficando frustrada de nunca conseguir entrar nele.
Carro estacionado, subinhos o morrinho para o castelo. Turistas passando por nós, e os gualdinhas na porta para manter a ordem e dar um ar de autoridade.
Qual não foi minha surpresa quando um dos puliça me párou. Não podia entrar!
O horário de visitas estava terminando....

Pra quem acha que foi burrice minha, antes de aceitar o singelo elogio tenho a dizer que era um domingo, antes das cinco da tarde, e no verão escocês, que faz as noites começarem apenas às dez, onze da noite. Praticamente TODAS as atrações aproveitam esse período de pseudo-calor e férias escolares para alargar o horário de visitas, e fazer uma graninha extra (que provavelmente compensa o numero reduzido de loucos que saem de casa durante o rigoroso inverno pra fazer turismo). Praticamente todas, mas não o Castelo de Edinburgh.

Jaqueline Costa
É brasileira e não desiste nunca, mas cogita abrir exceção pro Castelo de Edinburgh

Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

Cookie é bom, ninguém quer dar!