quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Noronhar É Preciso

O Diário Escrito Direto do Paraíso

Creio que não exista nenhum brasileiro fã de praia que não tenha vontade de um dia ir a Fernando de Noronha.
E eu sou do contra mas nem tanto!
A Paulixta, fiel companheira de desventuras, muito menos.
Há milhares de dicas de viagens e guias a dar com pau-brasil sobre a Ilha, as belezas e tudo o mais.
Este não é um deles. Não se preocupem, as páginas do Diário estão aqui agora e sempre para contar as minhas derrotas e as que eu presenciei.

Aterrissamos em Noronha e o guia local responsável por nosso traslado até o hotel logo nos encontrou. Já no ônibus a caminho da agência de turismos ele se apresenta:
- Bom dia gente, eu sou o Branco. Nem tão branco assim. Mas é que na verdade é mais fácil me chamar de Branco que por meu nome verdadeiro.... meu nome é ERIVALTER...
Risos, claro. E ele emenda:
- Olha, mas não é tão ruim não. Pior meu irmâo GÊMEO, que se chama ERIVOSVALTER! Minha mãe é muito criativa... ainda bem que eu nasci primeiro!

Ou seja, em menos de 5 minutos de Ilha percebemos que todo noronhense é guia turístico e faz também stand-up comedy.

A ilha de Noronha é única não apenas em suas belezas, como iríamos descobrir, mas também por sua história e todas as lendas criadas localmente. Começando pelo descobrimento da ilha, que se deu completamente por acaso: um dos barcos da expedição de Américo Vespúcio de 1503, patrocinada por – oooooohhhhh – Fernão de Noronha, naufragou ao bater contra pedras durante a noite. Toca de “homem ao mar! Homem ao mar!”, desce bote pra recolher, puxa daqui, ajuda dali, aquele vuco-vuco a noite toda – que só pela manhã, com a luz do dia, é que eles perceberam que havia um arquipélago ali!

Pausa para Avaliar a História:

Cristóvão Colombo queria ir pras Índias, veio parar nas Américas, e só muito depois se deu conta de que ainda estava a meio-caminho do seu destino.
Américo Vespúcio, grande navegador, deixou um dos navios da sua esquadra naufragar porque não enxergou um mega-arquipélago na frente deles.

Não impressiona que a Ibéria não tenha se mantido no poder por muito tempo...

A descrição da Ilha foi escrita de dentro do barco, exaltando a beleza do arquipélago e grande abundância de água doce e comida. Quando finalmente desceram e viram que beleza sobrava, mas comida e água nem sinal, deram a ilha de "presente" para o patrocinador. Que nunca pisaria lá e se poupou de ficar muito puto com a história toda.

Retornemos a nossa programação normal.
Malas largadas no hotel, partimos para o primeiro passeio e reconhecimento da Ilha. Não houve tempo para comer, catamos o pacote de batatas fritas e uma coca-cola do frigobar do quarto, e seguimos para o porto onde embarcaríamos na Navi, uma embarcação de fundo de vidro que é parte de um projeto de preservação da flora e fauna marítimas da ilha.
O começo até tava legalzinho, peixinhos, arraias... mas aquele negócio de parar no meio do mar, barquinho balançando, cabeça baixa olhando para o fundo da Navi, a batata frita... não demorou para que nossos estômagos fizessem uma encenação da Revolta de Canudos, e fomos para o fundo do barco para tomar um ar fresco.
Quando digo “fomos”, me refiro à Paulixta, eu, um calango mais e o repórter da TV local que havia ido fazer uma matéria sobre o projeto.
Meu estômago conseguiu conter a revolta que se aviltava, mas o mesmo não se pode dizer do calango ao meu lado, que sucumbiu à revolta de Guararapes interna que enfrentava.
Ao ver o pobre rapaz interagindo com a Natureza, a Paulixta, sempre solícita, resolveu também alimentar os peixinhos, no que foi acompanhada pelo reporter. Uma festa!
Que foi coroada quando, ao descer da embarcação, o reporter, já refeito e todo serelepe, faz seu discurso introdutório e sai para entrevistar... a Paulixta!
Pena que eu não gravei isso...

À noite fomos para o auditório do Projeto Tamar, onde diariamente ocorrem palestras das mais diversas sobre o arquipélago. Aquela noite era sobre a parte humano-geográfica, tratando um pouco da história, das características do arquipélago e da população, os projetos de preservação, aspectos sociais e eco-turismo.
A palestrante, uma (outra) paulixta que um dia se apaixonou pela Ilha e por um de seus moradores, deixando de lado a vida da selva de pedra pela tranquilidade noronhense, frisava bem o fato de Noronha ser um ecossistema fechado e portanto qualquer alteração do homem gera um impacto muito grande. Portanto, “nada de interagir com animais, não tocar, não alimentar...”
Opa, Paulixta! Tarde demais...

Curiosidades da Ilha
Em Noronha já não nascem mais crianças. Não, não se trata de controle populacional ou uma alteração genética que esterilizou toda a população. O que ocorre é que, se antigamente as mães tinham ajuda de parteiras na hora de dar à luz, hoje tudo é feito em hospitais. A Ilha conta apenas com um hospital, que exatamente para minimizar a invasão à natureza que já fazemos, conta apenas com o mínimo para atender a população. Não há, portanto, uma maternidade e unidade neo-natal.
O governo de Pernambuco é então responsável por prover transporte (sim, avião) para as futuras mamães se deslocarem até Recife e serem atendidas nos hospitais públicos da cidade. Porém as crianças, mesmo não nascendo na Ilha, recebem sua ‘carteira de morador’, sem a qual não se pode morar no local.

P.: Quem nasce em Noronha é?
R.: Sortudo


Depois da palestra seguimos para o que seria a ‘boa da night’: pizzaria com música ao vivo. As indicações eram simples e precisas: do lado da igreja, não tem como errar.
Peraí, do lado da Igreja?
Sim. E a banda só começa a tocar depois que o padre termina a missa. Pra não atrapalhar a celebração e também para dar ao pároco a chance de assistir ao show.

O dia seguinte foi o Ilha-Tour. Um passeio que se inicia por volta das sete da manhã e passa pelas praias mais conhecidas da Ilha, inclusive a Praia do Sancho, eleita 3 anos seguidos a mais bela do Brasil. Merecidamente.
Não é de se estranhar que o mirante que há próximo a esta praia se chama “Mirante do Ai que Lindo!”
Também se compreende porque a Noivinha ou Viuvinha, uma ave local, escolheu uma única árvore ali para se acocorar: com tanta paisagem bonita nos prendendo a atenção, só mesmo o medo de ser bombardeado por aquela artilharia anal para fazer alguém olhar pra cima.
E eis que ali estávamos no Ai Que Lindo quando alguém diz: “olha uma tartaruga lá!”
O lá era no mar que apreciávamos zentos metros abaixo de nós. E pra ver uma tartaruga daquela distância e com a hipermetropia que Deus me deu, só se fosse do tamanho de um T-Rex!

Do Sancho partimos pra Baía do Sueste, com mergulho apnéia e a certeza de ver tartarugas e peixes coloridos. E, com um pouco de sorte, até tubarões.
Bem, tenho a dizer-lhes que SIM, tubarões apareceram – mas eu fui a ÚNICA que conseguiu vê-los, passando sob mim, pertinho!
O momento foi tão emocionante que eu esqueci que estava na água e sozinha, e comecei a gritar "caraaaaaaaaca, não acredito! Um tubarão! Um tubarão!"
O que, com snorkel, soou como “crrrrrrrrrrrroooccccc! Numcrditu! Tufuroum! Tufuroum!”.
Sem contar que respirei pelo nariz. Água salgada entrando nas fossas nasais, uma diliça!
De lá fizemos uma pausa para almoço. E quando o resto da galera descobriu que eu havia sido a única que havia visto – e FOTOGRAFADO – tubarões, começou aquela história de pedir cópias das fotos.
A Paulixta, vinda do estado que impulsiona o país, da capital econômica do Brasil, nem pestanejou e já colocou preço: uma foto = duas cervejas.

E o dia ainda estava na metade...

Aguardem as Cenas dos Próximos Capítulos:
A intriga semeada pela Paulixta entre locais e ‘estrangeiros’
Conheça a lenda do buraco da Raquel
E emocione-se com a história de amor e ódio entre o snorkel e eu


Jaqueline Costa
Não é Tão Cega de Não Enxergar uma Ilha

Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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