Carnaval em Ritmo de Gaita-de-Foles
A pergunta insólita partiu de uma supervisora: “Jaque, você é católica?”
E agora? Será que existe resposta errada pra isso?
Eu sei que aqui na Escócia o povo não é lá muito religioso, mas vai que a mulher é da Irlanda? O que será que eu devo responder? Se ela não gostasse da resposta, poderia me atacar com um haggis mal-cozido!
Ressabiada, respondo “não... bem... ahn... por quê?” e ela, pasmem, me diz que é que ela gostaria de saber sobre a data de uma festa no Brasil, que é mais ou menos agora...
Gente, ela queria saber quando é o carnaval!
Falei pra ela que eu não precisava ser católica pra saber isso, só tenho que ser brasileira. E que eu acho até que a maioria dos súditos de Momo, católica ou não, nem sequer sabe que a data da “festa” é baseada na Páscoa...
Resolvi contar esta pra vocês terem uma idéia de como foi a minha semana pagã. Não que eu esperasse muito mesmo mas... me perguntar se eu sou católica???
E aumentam as doações para a campanha mundial FAÇA A JAQUE FELIZ, este Criança Esperança de duração indeterminada (afinal, a Jaque tem realmente esperança de continuar criança). Eis que me chega um pacote do Brasil e eu, toda toda, abro com um sorriso de uma orelha a outra (praticamente uma Coringa – e o Batman nem é meu herói preferido). Minha amiga e comadre Doc, ajudada na escolha dos mimos por uma também adorável figura Pqna, me enviou um montão assim de presentes! Um kit completo no estilo “depois disto, até a Jaque fica bonita”, com esmaltes, alicate, esfoliante... até um fino roupão de banho me mandaram!
Elétrica, mal cheguei em casa e me mandei pra banheira! Saí com o roupão e me empoleirei no sofá da sala com todos os badulaques para um momento menininha, tão necessário à minha então situação – minhas unhas estavam de um jeito tal que eu poderia ser confundida com uma águia careca e colocada sob supervisão da entidade ibâmica do local. A Sueca peituda olhava, não sei se divertida ou curiosa com aquele balé da natureza, que ela provavelmente esperava ver apenas em algum programa do Discovery Channel.
Terminados os trabalhos, olhei orgulhosa para minhas mãos (inacreditavelmente, não me esquartejei – um feito para esta figura incapaz sequer de tomar xarope sem derrubar na blusa), e disse para ela: “uau! Finalmente tenho todas as unhas do mesmo tamanho!”
SP, com sua delicadeza de javali, responde: ”você se importa com isso?”
Olhei pra menina meio de lado. Eu não sou uma mulher fresca, mas ela ganha de longe... “bem”, respondi, “eu não sou dada a siricoticos” (obviamente não usei a palavra siricoticos, mas esta é uma tradução livre, num país livre) “mas isso é básico pra uma mulher... como os homens... não é que eu PRECISE de um Mel Gibson ou um Brad Pitt” (mas ACEITO, FELIZ. Só pra registrar. Vai que a Deusa do Amor lê também este diário, por cima dos ombros de alguém?), “mas pelo menos que não coce o saco em público, escove os dentes direitinho e não ache que arrotar o abecedário é um dom de Deus”.
Não sei se ela ficou chateada com a resposta, mas no dia seguinte, de manhã, ouvi o barulhinho característico do cortador de unhas no quarto ao lado...
Jaqueline Costa
Só falta cortar o cabelo pra deixar de parecer com o Primo It