E já que voltei a postar o diário, volto também ao Serviço de Utilidade Pública, iniciado e mantido apenas aqui, neste incrivelmente bem-humorado e bem-escrito blog!
(Mais uma coisa: se eu não elogiar, quem vai?)
Vou então discorrer sobre este fato tão inevitável quanto inexorável, mas nem por isso tem que ser escroto.
O Poetinha já escreveu uma vez "a solidão (é) fim de quem ama". Quem sou eu pra discutir? O fato é que o único relacionamento que jamais acabará é aquele que nunca começou. Calma, calma, amigos, não estou dizendo pra deixarem de acreditar, de amar, de mandar rosas nem pra se pendurarem numa corda num quarto de hotel barato, ou beber whisky vagabundo na penumbra ao som de Maysa.
Nada é justificativa para beber whisky vagabundo.
Só estou dizendo que o pé na bunda faz parte da vida - e, como eu já disse antes, quem nunca levou um que atire o primeiro gelol! Eu já levei inúmeros, e é pra isso mesmo que eu malho os glúteos.
Enfim... dar um pé na bunda não faz do rapaz um canalha, nem de nós, moças, biscates. Tudo é a maneira como se dá o pé na bunda. Dependendo da graciosidade dos movimentos, a pessoa chutada vai até agradecer.
Engraçado ver que, sob pena de ser execrada pela generalização - e, diante disto, volto a dizer que este Serviço de Utilidade Pública é destinado a entender a média da população, feminina e masculina, e não atende a casos particulares; portanto, poupem-me! - mulheres, embora não sejam praticantes contumazes da arte do pé na bunda, têm toda uma leveza de gestual e expressões que, não raro, deixam o malandro aturdido e confuso se tomou ou não um cartão vermelho, o que leva o pobre rapaz a seguir incondicional fã da mão que afaga, mesma que apedreja. Homens, ao contrário, embora habitués nesta posição, tratam isto mais como um esporte olímpico, fazendo uso de fórmulas rápidas e fáceis, de modo a passar logo para a segunda etapa.
O que, é claro, além de uma enorme indelicadeza é nos tomar por idiotas.
Lições de casa para você, amante latino que quer presentear sua atual com um cartão de seguro-desemprego:
1. Esqueça clichês. Não há nada mais irritante que ouvir "não é você, sou eu". Ora, é claro que é você. Óbvio que é você. E, se não for você, é aquela louraça belzebu que você conheceu. Mas eu que não sou!
2. Seja cortês. Você teve um relacionamento com a moça, ela foi sua namorada, não a vendedora de cachorro-quentes da esquina que lhe causou uma dor-de-barriga de um fim-de-semana inteiro. Entenda que ela pode ter uma reação não exatamente tranqüila à situação - afinal, é você quem está terminando, não ela (veja o parágrafo acima). Seque suas lágrimas com a ponta dos dedos (isso é o máximo), e diga que sua amizade é um bem muito importante que você não gostaria de por a perder por insistir num sentimento que você não traz realmente em si.
3. Seja gentil, não seja canalha. Não a leve pra jantar, depois cinema, depois motel e então venha com aquela história de "nós precisamos conversar". A menos que ela seja surdo-muda, nas últimas seis horas vocês estavam, entre outras coisas, conversando, e esta frase é o eufemismo dos eufemismos para "legal te comer. Te vejo amanhã". Por favor, poupe-nos.
4. Não citem nomes, por mais que insistamos nisso. Se você já está apaixonado, fazer o quê. Mas não admita, fuja dessa raia. Você vai evitar aborrecimentos futuros, caso sua ex-atual seja daquelas psicopatas que ligam para a casa da futura falando barbaridades. Além de estressante, você vai perder pontos no caminho de conquistar a futura.
5. Todo mundo sabe que existe geladeira. Existe pra você também, não vou ser hipócrita. Mulheres usam o freezer, lazanha congelada ainda é opção para madrugadas insones e parêntesis entre relacionamentos, e é sempre melhor se você já conhece a marca, sabe o gosto. Mas não deixe óbvio que está nos congelando. Pode estragar e lhe dar indigestão no futuro.
6. Tenha certeza que quer terminar. Dar o pé na bunda e depois ficar de ladainha porque viu a moça com outro rapaz é palhaçada. Ela tem o direito de beijar outra boca, e uma vez que você tirou o seu do páreo, deixa a menina apostar em outro pangaré.
7. Se existem contas em comum, ou dívidas de cartão de crédito, acerte tudo duma vez só. E, da próxima vez, nem faça. Se ela pedir pra usar o seu cartão, esqueça a dívida. Se você não tem cartão, não faça a dívida.
8. Ela chorou? Berrou? Chamou você de filho-da-puta? Isso acontece. São os hormônios. Deixe a menina bater, somos o sexo frágil - não se preocupe, não vamos quebrar nenhum osso. Depois de ter certeza de que ela entrou em casa, ligue o carro e vá para a sua. Mande flores no dia seguinte, um enorme cartão lamentando a bifurcação em seus caminhos. E só. É canalha mas é lindo.
9. Não fique com a amiga dela. Isso é demais.