Peripécias de uma Brasileira Perdida na Velha Escócia
Por contrato, a empresa que me trouxe a este lado do mundo comprometeu-se a fornecer-me moradia e transporte nas locações a que me subordinarem (não estranhem o plural – pela minha nova condição, sou parte do grupo internacional da companhia, o que significa que posso ser enviada a qualquer lugar da galáxia para trabalhar, bastando para isso que exista petróleo em, por exemplo, Alpha Centauro). Eu sabia então que não teria que dormir na rodoviária da cidade até encontrar um kitnet ou qualquer outra coisa que meu salário pudesse cobrir.
De modo que eu aqui vivo em um belo apartamento de dois quartos, próximo ao centro comercial da cidade, com todos os móveis e eletrodomésticos que preciso, e até uns que não preciso e nem sei como ligar. Essa é a parte boa.
A não tão boa é que eu divido apartamento com uma sueca peituda.
Obviamente isto não foi escolha minha. Se me fosse dada opção, eu iria morar com um dinamarquês tarado. Mas nem tudo que se quer se tem.
Quando cheguei, meu gerente entregou-me as chaves do apartamento. Tá aqui, Jaque, você vai morar com a sueca peituda. Logo pensei, vai ser uma briga boa, “já que” eu sou uma brasileira peituda!
Mas, por graças da genética, da tradição e da paixão nacional, eu não sou apenas uma brasileira peituda, mas também uma brasileira bunduda! Talvez não tanto como outras compatriotas, mas com certeza muito mais que esse povinho que vive acima do Equador e do lado de cá de Greenwich. HA! In your face, big bubs Swedish girl!
A sueca não é má pessoa, embora seja um tanto toalha seca. Cultura setentrional, mais uma vez. Mas é simpática, nós conversamos bastante. Não acho graça de metade das piadas que ela conta, mas rio para ser educada.
Ela nunca retribui o favor, e eu estou começando a me achar a pessoa mais sem-graça do mundo.
Na verdade, alguém tem que explicar para os europeus que os latinos são uns piadistas. Toda vez que eu, ou outro dos latinos, sou irônica ou simplesmente debochada, tenho que acrescentar a frase “I’m kidding/joking”. Senão eles levam a sério e me olham meio de lado.
Também estou tendo problema com esse negócio de “mão inglesa”. Como não tenho carro aqui, achei que estaria longe de ser responsável por algum acidente. Mas começo a rever a possibilidade – toda vez que atravesso a rua, olho pro lado errado. Já ouvi umas 20 buzinadas, e nenhuma foi menção à minha bunda brasileira.
Mas vou sobreviver. Pelo menos até a primeira garrafa de whisky.
Jaqueline Costa
Fazendo de tudo para ser logo promovida e ir morar com um alemão bem-dotado
Fazendo de tudo para ser logo promovida e ir morar com um alemão bem-dotado
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