Friaralho do Carinho
Esse povo da Bretranha, Grã ou Pequê, é tarado pela Victoria Beckham. Pro marido eles não estão nem aí, mas a ex-spicy, nossa! Em todas: revista, semanários, jornais, suplementos... Victoria diz como está seu casamento, Victoria revela os segredos do seu guarda-roupa. Victoria diz que não se importa de estar gorda (no dedão do pé, eu presumo). Victoria fala de seu drama: “meu marido não conversa comigo”.
Não conversa porque não precisa. Basta ser assinante do Herald’s que ele pode saber o que a mulher está sentindo, o que comeu no café-da-manhã, como foi seu dia e o que ela espera ganhar, de surpresa, em seu aniversário.
E eis que eu experimentei minha primeira chuva de gelo (freezing rain, como eles chamam aqui). Nos cornos. Uma diliça.
Cheguei à base pela manhã e a supervisora da oficina começa a dividir as tarefas. Olhou para mim e disse: “você vai ficar lá fora”. Sorrindo, perguntei: “sua mãe vai bem, né?”. Como ela não entendeu, só coube-me recolher meu capacete e minha insignificância e sair.
Não havia nem 20 minutos que eu havia começado a trabalhar para a chuva dar o ar de sua desgraça. Que pouca é bobagem, então de água passou a pedregulhos de gelo, que, ajudados pelo vento, batiam com toda vontade neste rostinho – se já não era lá essas coisas, com essa massagem então...
Felizmente terminei meus afazeres antes do almoço. A chuva de gelo passou a nevasca de ocasião, e finalmente, depois de tantas vezes tiritando de frio (não só aqui. A lembrar as aventuras em New Orleans, Dallas, na Patagônia Argentina...), pude ver nevar!
E, vão por mim: olhando pela janela, do lado de dentro de um prédio com aquecimento central, é bem bonito!
Domingo, com a neve dando um descanso, resolvi dar uma volta de bicicleta pela cidade. Sem neve sim, mas nem por isso sem dificuldade. Uma leve descida, não era nenhum montain bike downhill, mas o suficiente para, pesos meu e da bicicleta em conjunto, adquirir certa velocidade sem precisar pedalar. Mas o vento contra foi aumentando, aumentando e... a bicicleta párou! Ou melhor dizendo, o vento párou a minha bicicleta! Cheguei a descer da danada e ver se os pneus estavam ok, se os freios não estavam travados. Não, não estavam. Era o vento mesmo – que, se estivesse a favor, teria certamente me ajudado a quebrar o record mundial de velocidade em duas rodas.
A sueca peituda voltou de sua semana de folga em terras natais. Ela já havia me dito que na Suécia, no verão, o Sol não se põe – o famoso “Sol da Meia-Noite”. Claro que isso significa que no inverno o Sol não aparece. Fácil compreender porque na Suécia o único produto de exportação é filme pornô: três meses no escuro, se você não pensar em suicídio, só pensa em sacanagem!
Mas disse a mulher-gigante que lá sim, está frio.
Aparentemente, aqui não. O que me leva a concluir que o fenômeno meteorológico que párou minha bike foi apenas uma leve brisa.
Jaqueline Costa
Entre Highlanders. E sem medo de decepar
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