Passando Frio em Grande Estilo
Eis que o último fim-de-semana de Janeiro se anunciava e, com ele, a desculpa perfeita para viajar: era aniversário da minha amiga meio-francesa meio-americana, totalmente non-sense e polaca por maioria de votos, Stephie.
Inicialmente pensamos em buscar alguma praia para expor nossas figuras na Medina, mas uma rápida olhada no Weather Channel águou nossos planos: chuva em todas as areias européias. Nossa lógica torta nos levou à decisão de ir então a algum centro de esqui – afinal, se é pra passar frio, que seja estilosamente.
E foi assim que os Alpes Franceses foram agraciados com a presença de uma brazuca perdida, uma americana porraloca e um italiano além de qualquer definição simplista.
A um dia de viajar ela nos envia o destino: Bourg Saint-Maurice. Desconfiei seriamente que o lugar não existisse, já que, até onde sei, Maurício nunca foi santo. Mas como eu sou uma eterna criança, e eles também, fizemos nossas respectivas malas e rumamos para a Terra do Nunca.
Don Peppe havia me dado carta branca para comprar sua passagem, e nós acertaríamos depois as dívidas. No Duty Free do aeroporto de Apértim, os olhos do siciliano rapidamente foram capturados pelas garrafas de whisky em exposição, e ele resolveu comprar um presentinho a mais para Stephie.
Ainda na fila para pagar suas compras, eu perguntei se ele poderia dar uma olhada na minha mala enquanto eu iria ao banheiro. Quando saí do pipi-room vi meu carcamano favorito confortavelmente sentado na cafeteria, e me juntei a ele. Ele então comentou do estranho tratamento que recebeu da moça do caixa no Duty Free, que não só sorriu pra ele (fato inédito com os atendentes aqui), como também desejou a ele boa viagem e bom divertimento. Pepito estava totalmente estupefacto.
Eu imediatamente saquei qual era o caso: “Peppe! Ela pensa que você está pagando tudo pra mim! Caraca, que coisa ridícula! No mínimo ela acha que pode conseguir um fim-de-semana na França também!!!”
Logo depois me lembrei que ele não tinha ainda nem me devolvido o dinheiro da passagem dele...
“Pior! Não só você não me pagou nada, como EU QUE PAGUEI SUA PASSAGEM! Volta lá AGORA e fala que você é meu michê!!!”
Don Peppe achou a história muito divertida. Passou o fim-de-semana se dizendo personal gigolô.
Na chegada ao hotel, nossa primeira missão impossível: embora Stephie houvesse nos dito por email para levar roupa de banho, já que o hotel possuía piscina e jaque-zzi, Don Peppe não levou nem um short sequer, porque em sua mente mafiosa, qualquer resort ligado a atividades desportivas deve também vender roupa de banho – e fomos nós, malas devidamente deixadas no hotel, andar de loja em loja perguntando por sunga. Considerando que TODAS as lojas eram de equipamentos de esqui e snowboarding, vocês podem imaginar o sentimento de estranheza que causamos. Um dos atendentes nos olhou tão desconfiado que quase estendi a mão em sinal de paz e falei: “Leve-me ao seu líder!”
Obviamente, não encontramos nenhuma sunga.
Começamos então a explorar a montanha em que estávamos. “Explorar”, é claro, não pode ser tomado no correto sentido do termo. Na verdade a gente subiu o morro empurrando e enterrando uns aos outros na neve, além da clássica guerra de bolas de neve e um originalíssimo concurso de mergulho.
Há rumores de que a noite foi especialmente fria. Não sabemos. Como um dos presentes que Don Peppe comprou pra Stephie foi uma garrafa de Jack Daniels, nós estávamos devidamente anestesiados e enfrentamos bravamente o inverno francês.
No dia seguinte, como minha insanidade me fazia crer que eu ainda não tinha levado tombos suficientes naquela superfície gelada, convenci a americana a fazer comigo uma aula de snowboarding. O italiano foi nosso cameraman já que, segundo o próprio, ele é fisicamente incapaz de se manter em pé numa prancha.
Devo dizer que me apaixonei pela brincadeira – sobretudo porque todos os meus tombos foram de bunda, ou seja, nenhum problema para meu já sofrido joelhinho. Mas o dia terminava, e nós teríamos que voltar para as respectivas realidades labutantes. Trem de regreso, e meus dois comparsas resolveram me ensinar as artes do poker. Regado a whisky.
Chegar em Aberdeen foi complicaaaaado.
Jaqueline Costa
Jura que vai colocar o diário realmente em dia
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