quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Só o Cume Importa!

A subida – e a DESCIDA – de El Colorado

Até agora o diário estava light, coisas básicas como tomar um pisco sour aqui, um laxante acolá... mas férias com a Jaque é sinônimo de aventura, adrenalina, medo, muito medo!
Nem que seja medo da Jaque aparecer na sua casa. Mas que dá medo, dá!
Nossa viagem estava neste pé: conheceramos Viña del Mar e o Oceano Pacífico, esta incógnita para nós, amantes latinos do Atlântico; déramos uma passada na casa de Neruda, para um cafezinho; foto em frente ao estádio Sausalito; e várias muitas caminhadas ‘al rededor’ de Santiago, que então já conhecíamos como a palma suada de nossas mãos.
Faltava o mais importante: subir um dos ‘nevados’, ir a uma estação de esqui!
Havíamos marcado a subida a El Colorado para a manhã da sexta-feira, já que domingo era o dia em que a realidade bateria às portas avisando que a viagem acabou. Tudo combinado com o serviço ao turista perdido, e a van nos pegaria às sete da manhã, horário nada cristão, em frente ao hotel.
O dia amanheceu chuvoso. Aliás, tormentoso. E água em Santiago é sinônimo de nevasca nas montanhas. Depois de um bom par (ou trio) de horas esperando no Mc Donalds, o ‘seu motorista’ veio nos avisar que o passeio estava cancelado, as estradas estavam fechadas e o BigMac estava em promoção.
Só que eu sou vegetariana.
O passeio só não foi completamente perdido porque durante o tempo de espera PC e eu pudemos ver a seleção feminina de futebol avançar para as finais nas Olimpíadas, enquanto a Josie e a Tati puxavam um ronco num sofazinho maroto que havia na lanchonete.
Humildes turistas perdidos que somos, colocamos a viola no saco e a mochila nas costas, e fomos afogar nossas mágoas no Mercado Central, afinal não há tristeza que resista a uma tarde de compras arrematada com pisco sour.

Sábado de manhã, nova tentativa. Ivy e Miguel valentemente juntaram-se a nós neste desafio de conquistar a montanha de gelo. Conquistar de van, mas conquista é conquista!
Do pé da montanha até o cume, já que só o cume interessa, são contadas, através de placas, quarenta curvas-cotovelo. Depois da quadragésima, os santiaguenses cansaram ou a tinta acabou, mas as curvas seguiam firmes e fortes!
No início tudo era motivo para fotos, “uau’s”, “oh’s” e “ah’s”. Até que o gelo começou a aparecer não só nas cordilheiras à nossa volta mas também na estrada sob nós. Conforme subíamos, mais e mais carros páravam nos semi-acostamentos para colocar as correntes nas rodas. Menos o tiozinho da van, que, ousado, seguia o rumo como se estivesse pilotando um tanque do exército russo entre as geleiras da Sibéria.
Cada vez que a roda da van dava uma escapada, os rostos de Josie e Tati mais combinavam com a paisagem branca. Já naquela situação em que não lhe passaria nem agulha, Josie comenta com Tati, num fio de voz: - Por que ele não coloca a corrente? EU AJUUUUDO!
Tati, na mesma situação: - Eu tambéééem!
Para o alívio destas duas pessoas tão corajosas, na penúltima curva o tio colocou as ‘cadenas’.

E chegamos a El Colorado! Que fica à esquerda, ou à direita, de Valle Nevado. Depende de quantos pisco sours você tomou antes de subir, e a quem você pediu informação. Mas estávamos lá, a estação de esqui bombando, snowboarding, teleférico, saltos pra cá, neve espirrando pra lá...
Diante de tanta ação, pegamos uma mesa, uma rodada de pisco, e começamos a jogar truco.
‘Mas vocês subiram tudo aquilo, passaram todo aquele perrengue, só pra jogar truco?’ vocês hão de me perguntar. E orgulhosa respondo: NÃO! Também jogamos sueca, sambamos na neve, e fizemos guerra de bolas de neve, num memorável round “Todos Contra Tati”. Até churrasquinho arrumaram lá em cima. De carne congelada, eu presumo.

Claro que tudo que sobe, tem que descer. Mas pra baixo todo santo ajuda, a gente tem essa falsa idéia.
Bem, o problema é que, com neve, quando o santo ajuda, atrapalha. E, na hora em que os carros começaram a descer, começaram também os acidentes. Freia um carro sobre o gelo, que eu quero ver! E, se a subida nos tomou quase três horas, a descida nos levou as últimas seis horas do dia. Felizmente, como bons farofeiros que somos, tínhamos conosco um suprimento de biscoitos apenas superado pelo estoque da Nabisco, e fome não foi o problema.
Problema mesmo é que aquela van parecia mais uma ambulância ortopédica, e ficar na mesma chata posição durante seis horas estava fazendo maravilhas para meu tornozelo e meu joelho. Mas quem sou eu pra reclamar, já que a van tinha o isolamento da porta quebrado, e todo o ventinho gelaaaado do morro tratava de fazer a crioterapia em meus membros inferiores.
Entre uma cãimbra e outra, os planos de voltar a El Colorado. Dessa vez, quem sabe, pra passar um fim de semana, fazendo um legítimo pagodão brasileiro. Afinal, com neve ou sem, morro é morro...

Jaqueline Costa
Sentindo saudades de Santiago

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Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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