segunda-feira, 20 de julho de 2009

Canadando

Além de Polícia Montada, Canadá Produz o Que???

Embora minha viagem para o Canadá, para mais um Xubis-curso, estivesse prevista desde novembro do ano passado, o povo aqui resolveu comprar a passagem só a uma semana de me mandarem para o país.
(Eu ia aqui acrescentar algo como ‘o país de...”, mas não me veio nada à mente. Aceito sugestões. Quando se fala em Canadá, o que lhes vem à mente??). E então descobriram que só havia passagem na classe executiva. Por mim, tudo bem! ! ! !
Pro meu chefe nem tanto... Ele achou melhor me mandar 4 dias antes do curso começar, e me deixar lá de bobeira no hotel.
BOOOOOOOOOOOOOOOOM também!

Escala de 3 horas em Londres, depois algumas várias horas até Edmonton, Canadá. Fila normal para o passaporte, e me encaminho para as esteiras, a esperar minha mala.
Que, obviamente, respeitando a Maldição de Montezuma que me persegue, não chegou.

A esteira pára, já todos tinham suas respectivas bagagens. Menos eu.
Já mais que acostumada com isto, me encaminho para um dos funcionários do aeroporto para pedir os formulários de declaração de bagagem perdida. O cara me explicava os trâmites, naquela de “não se preocupe, blablabla whiskas sachê”, e como viu que eu estava super-tranquila e não questionava nem reclamava, me olhou um tanto aturdido. Eu expliquei: “ah, não ligue. Já estou acostumada. Sempre perdem minha bagagem”.
Ele, aparentemente treinado nas milenares artes orientais de despachar mala, me disse então que a minha foi perdida porque eu tinha pensamentos cinza quanto a isso, e me aconselhou a ter pensamentos mais positivos na próxima viagem. Ah, tá. Então era por isso...

Saí do aeroporto e entrei no primeiro táxi que encontrei. O motorista, um muçulmano, depois que lhe disse o endereço do hotel, me perguntou de onde eu era. Não sei como ele adivinhou que eu não era local, este meu semblante é tão canadense!
Falei que do Brasil. Foi a deixa para 20 minutos de conversa girando em torno de futebol, café e carnaval. Mas o melhor mesmo foi, ao me deixar no hotel, ele me entregar seu cartão e me mandar procurar sua família no Brasil. Que mora em São Paulo.
E Sào Paulo é tão pequeno.... quase não tem árabes....

O jet lag me matou na primeira noite. Totalmente fora do horário, não consegui dormir depois das 3 da manhã. Às cinco, já cansada de me revirar na cama, resolvi sair para uma caminhada na cidade.
Edmontão é uma cidade do estado de Alberta. Mas às cinco da matina, seu estado era mesmo Felchada. E como eles não exatamente são adeptos do pedestrianismo, não há calçadas. Ou seja que ver uma figura, tão incrivelmente cedo, caminhando onde normalmente só se vêem carros estacionados não é exatamente comum.
Alie ao fato de que minhas roupas estavam na bagagem, que naquele momento deveria estar fazendo escala no Turbequistão. Ou seja, eu estava caminhando com um puta sobretudo que tinha usado pra viajar. Não era exatamente uma roupa esportiva.
Diante de cena tão ímpar, não dá pra estranhar muito que um gualdinha tenha parado a viatura para me oferecer carona, achando que eu estava procurando uma oficina ou algo assim para um suposto carro quebrado...

O primeiro dia de aula chegou. Minha mala não. Havia comprado alguns items de primeira necessidade – shampoo, condicionador, sabonete, camisetas – e vamos que vamos. A turma era pequena, apenas 5 além de mim. Um sueco, uma argelina, uma tunisiana, um árabe e um canadense. E logo de cara, o primeiro instrutor no curso se apresentou como sendo do Sri-Lanka, tendo feito faculdade na Rússia. E o cara ainda por cima tinha a língua pguêsa!
Primeira pergunta do sujeito depois que desnudou esse seu currículo: “alguém aqui fala russo?”
Não me contive: “só depois da primeira garrafa de vodca...”
Nossa sorte não iria melhorar. Nos dias seguintes nos foi apresentado o segundo instrutor: coreano e gago...

Mas a gente estava ali pra brincar ou pra estudar? Na dúvida, alguém na turma descobriu que havia uma montanha-russa dentro do shopping.
Isso aí que vocês leram.
Como pessoas maduras que somos, pulamos dentro dum táxi para ver que história era essa. Os seis na fila para a voltinha – nem tão voltinha assim, tem 3 loops bem satisfatórios – e então que Sanel, o sueco, e Ahmed, o árabe (e se eu não dissesse vocês nunca iriam adivinhar, né??) saíram por dois minutos para comprar uma água. Éramos os últimos na fila quando eles saíram, mas obviamente quando voltaram já havia outras pessoas atrás de nós.
Sanel, numa tentativa frustrada de explicar às adolescentes que conversavam animadamente que eles não estavam furando fila, disse: “nós estamos juntos”. Porém sem apontar a nós, em sua inocência sueca imaginando que isto estaria implícito.
A menina, olhando para ele e para Ahmed, fez uma cara de espanto, acho que tanto pela informação quanto pelo fato de ele atrapalhar sua fofoca para lhe contar o babado. Mirou de alto a baixo meu amigo de 1.97m e seu suposto “companheiro” e, estupefata, perguntou: “vocês dois estão JUNTOS???”
Só com a gargalhada que veio do grupo que estava à sua frente foi que ela percebeu o que Sanel tinha intenção de falar...

E uma das noites resolvemos ver como era uma balada canadense. Esperávamos nós na filinha para apresentar devidas identificações. Na minha vez, o segurança disse que não poderia aceitar minha identificação porque não era DE PLÁSTICO. Sim, ele mandou essa na minha lata.
O pobre sueco, meu fiel escudeiro nesse curso, ainda tentou argumentar com o cidadão, dizendo que no meu país não existe esse negócio de ID igual cartão de crédito. O cara estava irredutível, e eu estava cansada, e como não queria realmente ligar a impossibilidade de negociação com o fato de ser a única na fila que não tinha cabelo escorrido, falei pra galera esquecer o assunto, entrar e se divertir, eu iria pegar um táxi e voltar calmamente para a minha cama super-king-size no hotel.
Assim fiz, e mais uma vez o taxista que me recolheu era de origem árabe. Como estávamos relativamente longe do hotel, a corrida iria tomar bem uns trinta minutos. Que o motorista preencheu perguntando – só pra variar – de onde eu era. Depois de mais um momento futebol/café/carnaval , o cara resolve me perguntar o que eu estava fazendo no Cana-dá. Eu disse que apenas assistindo a um treinamento da minha companhia. Ao que ele, como todo cara que quer saber se a menina está sozinha ou se dá pra chegar junto, revisitando um clássico das pistas no mundo todo, perguntou se meu namorado não ligava de eu viajar sozinha. “Não, a gente não tem problemas com isso”, eu disse, pra ver se isto lhe bastaria para mudar o foco do assunto para a guerra do Iraque ou qualquer outra coisa mais agradável. Eu deveria era ter acrescentado “O que lhe incomoda mesmo é quando eu pego taxista maluco na noite”, mas resolvi não polemizar.
Aí ele veio me convencer que, se não tinha problema, era porque eu estava sendo chifrada. A conclusão era tão lógica pra ele quanto surreal pra mim, e eu ri. Foi quando ele subitamente começou a falar da vida dele. Que ele estava procurando agora uma morena. Oh, não me diga. Sim. Porque ele tinha namorado uma loura. Linda. Loura e linda, tinham namorado por x anos (eu não estava exatamente me apegando aos detalhes). E então ela chifrou ele. Coitadinho. Tomou volta. Estava revoltado com as loiras. E que mesmo agora tinha uma outra platinada apaixonada por ele. Mas ele não confiava mais em loiras, e estava procurando uma morena.
Antes que ele me pedisse em noivado dentro do táxi, virei pro tiozinho e falei: “Não pense assim. Tire essaa mágoa do seu coração. A vida segue. É só ter um pouco mais de fé nas pessoas, eu tenho certeza que você ainda vai encontrar uma morena pra te sacanear...”

Jaqueline Costa
Sim, Novamente com Bagagem

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Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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