segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Transferência Nada – Moderno Mesmo é Teletransporte

Aberdeen. Amsterdam. Cape Town. Johannesburg. Pemba. Em 4 dias

O diário volta a enfrentar um vórtex temporal e eu abro um parêntesis nas aventuras do continente zoropeu para colocá-los a par ou ímpar do meu paradeiro.
Explico: como todos sabem, minha vida segue um traçado reto e bem definido, com todos os eventos bem planejados e de acordo com uma agenda pré-estabelecida.
E se vocês acreditaram nisso, eu tenho um terreno na Lua pra vender.

Eu havia passado uma semana com minha pequena infante em Paris e Colônia (relatos ainda por vir), e de volta à minha base para as atividades (a)normais, meu gerente e personal péla-saco me chamou até seu escritório. Queria conversar sobre minha transferência.
Perguntei para quando, ele respondeu ‘para o mês passado’. Ah, tá!
Ninguém disse que a vida xubisiana era fácil. Mas se fosse, não teria graça.
E assim, às voltas com finalizar contrato de aluguel, fazer inventário de mudança, programar viagem, o diário atrasou e atrasou e atrasou e atrasou.

O grosso (MQD) da minha mudança já havia seguido para Pointe Noire, minha nova locação, uma aprazível cidade praiana na República do Congo. Era uma quinta-feira e eu me preparava para jantar com alguns amigos para ensaiar minha despedida de Apertim. Meus planos eram sair do Reino Juntim no domingo de manhã, gastar mais dois dias das minhas inesgotáveis férias na cidade-luz, e então seguir para meu safári africano.
Infelizmente esqueci de repassar para meu novo gerente minha planilha baladesca e ele, desconhecedor de meus compromissos sociais e esbornalísticos, me ligou avisando que eu tinha um trabalho.
Em Moçambique.
Que era, óbvio, para ontem.
Alguem aí tem a ilusão de que exista vôo direto de Apertinho pra algum lugar da África? Se tem, sinto fazer desvanescer suas inocentes esperanças.
Então minha ida foi assim marcada: sexta à noite saindo da Whiscócia para Amsterdam. Dormir na cidade que não dorme, e sábado seguir para Cape Town, África do Sul. Domingo de manhã uma reunião pré-job, para não perder o costume (só o fim-de-semana) e à tarde partir para Johannesburg. Na segunda pela manhã, vôo para Pemba, Moçambique.
Tudo bem que eu sou uma mulher globalizada, mas isso já está beirando as raias da onipresença!

Bem, mas eu já estava na merda mesmo, o negócio era aproveitar a estadia. Malas desovadas no hotel, segui para o centro do furdunço holandês.

A camiseta escrito Paris. No boné, London. O cachecol estampava Deutschland. E eu com essa caras de talibã. Não impressiona que ninguém acerte minha nacionalidade. Na loja do Hard Rock, o simpático atendente deu seu chute:
- Grega?
- Hmmm não. Tenta de novo.
- Israel?
Achei melhor dizer logo Brasil antes que ele escavasse lugares piores.

Depois de uma pequena caminhada no canal e um singelo jantar, resolvi conhecer a tão famosa red light street, o overground mais underground do mundo.
Qualquer que seja sua idéia de uma night perfeita, a red light vai satisfazer. Pubs com cerveja estupidamente gelada e convidativas mesas para aqueles bate-papos que começam com risada, enveredam para filosofia, e terminam com outra risada. Boates latinas. Boates techno. Boates puts-puts. Boates com fumaça e um nome esquisito em que ninguém entende porra nenhuma. Coffee shops pro povo da marofa - Já que lá é liberadíssimo.
E sexo. Muito. De verdade. De montão. É no mínimo surreal ver a mulegada literalmente exposta nas vitrines ao longo da rua, dançando, conversando, convidando os transeuntes a dar uma entradinha - com duplo sentido.
Interessante é que não vi nenhum michê, go-go boy ou um entregador de pizza sem camisa que fosse. Onde andam as feministas quando precisamos delas? Pra pedir direitos iguais e matar o cavalheirismo - e, por tabela, os jantares pagos - elas aparecem. Mas na hora de fazer valer nossos direitos de semos erradas, ninguém dá as caras.
Esse mundo tá mesmo acabando...

Jaqueline Costa

Fim do buraco no espaço-tempo. Voltamos à programação normal

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Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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