terça-feira, 7 de setembro de 2010

Uma Experiência Própria

Devido ao trabalho que tenho, minha visão do mundo é muito mais baseada em prática que em teoria. Já trabalhei com gente de meio mundo, podem nomear aí: brasileiros, argentinos, bolivianos, colombianos, equatorianos, venezuelanos. Filipinos, mexicanos, jamaicanos, americanos, canadenses. Ingleses, franceses, escoceses, portugueses, noruegueses, espanhóis. Nigerianos, sul-africanos, gaboneses, moçambicanos, angolanos, tunisianos, argelinos, sauditas. Chineses, tailandeses, australianos, japoneses, neozelandeses. Até uma mongoliana já conheci.
A lista segue, quem não vai seguir sou eu que afinal o objetivo deste post não é mostrar que eu conheço gentílicos.
Apenas queria dizer que podem criticar minha visão por qualquer coisa, até de ser de uma capitalista barata (o que não é verdade, eu sou uma capitalista carérrima), mas não de ser limitada e fechada a uma realidade puntual.

Atualmente eu vivo na República do Congo. Uma ex-colônia francesa que celebrou este ano, 2010, seus 50 anos de independência.
É definitivamente muito pouco, e eles ainda pensam como colônia. O sentimento de nação na África é algo que ainda não foi desenvolvido. Mas isso será assunto para uma página do Diário, não agora.

Antes do Congo, falando apenas de petróleo, foram quatro anos trabalhando no Brasil (com eventuais operações em outros países da américa latina), e dois anos vivendo e trabalhando no Reino Unido.

Quando então cheguei ao Congo o choque de realidade era inevitável. Porém eu já estava preparada para ver diferenças gritantes no cotidiano, nas horas livres. No trabalho, visto que eu estaria na mesma empresa cujo sistema de avaliação de qualidade de serviço é uma política mundial, e também os procedimentos para cada tipo de trabalho, imaginei que a diferença não seria tão grande. Menos organização, sim, mas nada mais que isso.
Claro que me enganei redondamente, senão vocês nem teriam lido o parágrafo acima.
Além da falta de organização generalizada, no Congo eu me deparei com situações que jamais imaginei ver nesta companhia – ou, pelo menos, se visse seria um caso isolado, não regra geral.
Procedimentos não são seguidos, trabalhos nunca são terminados, funcionários “desaparecem” logo no início do dia para só reaparecerem, tranquilamente, quinze minutos antes de terminar o horário de trabalho. Equipamentos sem manutenção são enviados para trabalho, testes de equipamentos são ignorados ou, pior, falsificados. Incidentes e acidentes são ocultados.
Ninguém nunca é responsabilizado por problemas, por maiores que sejam.

Se você mora em Marte e não tem uma boa recepção de TV, então talvez seja novidade ler que exploração de petróleo é um trabalho arriscado que, se executado de maneira irresponsável e sem planejamento, pode resultar em acidentes catastróficos não apenas para quem está no trabalho, como para toda a sociedade.
Preciso escrever Deepsea Horizon pra que faça sentido o que eu disse acima?
Façam depois pesquisas sobre Piper Alpha e Exxon Valdez, ou, se quiserem exemplos brazucas, plataforma P-36 e plataforma de Enchova.

Para evitar estar em jornais pelos motivos errados, ou numa entrevista com São Pedro antes da hora, respeito a procedimentos e planejamentos é vital. Também é muitas vezes chato, mas não deixa de ser vital. E cada incidente e acidente, por pequeno que seja, deve ser relatado e investigado, para descobrir causas e evitar novos.

O que acontece no Congo, então?
Acontece uma perigosa mistura de preguiça generalizada com gerência conivente. Então se alguém não trabalha, não aparece, não faz o teste como deveria ser feito, não realiza a manutenção de um equipamento... nada lhe passa.
Se isto resultar num incidente ou mesmo um acidente, nada é relatado. Nada é investigado.
E não há nenhuma espécie de punição para isto, nem sequer uma reunião a portas fechadas para discutir o problema.

Qual é o efeito disso?
Todos se portam da mesma maneira. Mesmo entre os que não são do Congo, a maioria adotou esta filosofia de não trabalhar e não assumir suas responsabilidades.
E por que seria diferente?
Ao final do mês, todos têm seus salários. Independente de terem ou não trabalhado, feito ou não as coisas da maneira como deve ser. E para os que fizeram corretamente sua parte, a única coisa que receberão a mais será.... mais trabalho!
Não é assim no socialismo?
Os esforços são para o ‘bem comum’. O que é muito bonito de se falar, só não funciona. Em muito pouco tempo os esforços terão se reduzido ao mínimo.

Riqueza é criada no setor privado através de produtividade. O Governo não pode criar riqueza, assim ele a confisca, consome, e redistribui. Porém quanto mais o Governo confisca de quem produz, mais desencoraja a produção.

E o que temos hoje no Brasil? Os ‘injustiçados’ recebem promessas do Governo de grandes recompensas através de seus programas. Em lugar de serem motivados a produzir, a ajudarem a si mesmos, são encorajados a esperar em suas casas pela ajuda governamental.

O Governo de um país não deveria ser uma empresa de caridade. Como a gerência de uma empresa não pode ser como a avó boazinha que sempre dá balas para seus netos travessos.

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Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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