quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vida de Filha Expatriada

As maioria das pessoas pode apenas imaginar que a vida de expatriados, longe de seu país, seus amigos e sua família, seja difícil. Mas a cruel verdade é que só quem realmente vive essa realidade sabe quão complicado é.
Sobretudo para nós, mulheres.
O relacionamento mãe-filha expatriada é complicado e às vezes tenso. A comunicação nem sempre é clara. Afinal, como é que a gente vai conseguir falar da novela se nem passa aqui?
E não, mãe, eu não ouvi a trovoada que deu essa noite.
Um dos tópicos prediletos das mães, e que também é impossível ser acompanhando por nós, figuras ciganas, são as promoções do supermercado. Diálogos como o que vou escrever aqui são muito comuns entre minha progenitora e eu:
- Oi mãe, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Comigo tudo legal. E o pai, como vai?
- Seu pai vai bem. Ontem ele... JAQUE, sabe quanto tá o arroz no ABC?
- Não, mãe, eu não faço idéia de quanto esteja o arroz no ABC...
Nesse momento qualquer tentativa minha de saber sobre meu pai, meus irmãos ou meus cachorros será em vão. Minha mãe acha esses assuntos secundários, enquanto o preço do arroz no ABC é algo de vital importância, capaz de determinar os rumos da história da humanidade.
No mesmo tom de alarme com que me fez a pergunta, ela me informa o valor do arroz. Claro que ela ignora o fato de que eu não moro no Brasil há quase 3 anos, que não recebo em reais, que não faço compras em reais, e pra falar a verdade eu não sou capaz nem de dizer quanto custa o arroz no país que eu moro. Ela diz o preço do arroz no ABC e espera de mim uma reação, mas eu não tenho idéia do que lhe dizer: “nossa mãe, que caro!” ou “nossa, mãe, que barato!” ou “nossa, mãe, que número randômico!”
Como mãe é tudo igual, não seria apenas a minha a me presentear com seus longos monólogos entoando a lista do supermercado. Eu conversava com a Paulixta por msn enquanto ela pacientemente ouvia de sua mãe todas as promoções do mercadinho de Diadema. Claro que eu estou simplificando aqui a situação, apenas falando do preço de um produto em um mercado. Mas nessas conversas as mães nos presenteam também com as variadas marcas, em diferentes mercados, que poderiam gerar infinitas combinações para serem usadas nas aulas de Estatística das faculdades de Engenharia.
Foi quando eu pensei – por que os mercados não fazem algo para ajudar este já complicado relacionamento?
Senhores donos de mercado que têm mães, ajudem a esta pobre criatura a manter um diálogo plausível com sua genitora.
Em lugar de variar os preços nas promoções, variem peso ou volume!
Afinal, moeda muda, câmbio flutua, governo se mete... mas unidade de massa e de volume ficam!
Já imagino como será fácil conversar com minha mãe se os donos de supermercados ouvirem meu singelo pedido...
- Oi mãe, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Comigo tudo legal. E o pai, como vai?
- Seu pai vai bem. Ontem ele... JAQUE, sabe qual a promoção do arroz esta semana no ABC? 1.3kg!!!!
- Caraca, mãe! Que barato! Comprou estoque até o Natal, né?
- Claro! Uma promoção assim não se desperdiça! Mas olha o absurdo... o leite baixou 200ml!!!
- Mas mãe, meu pai nem toma leite....

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Uma Emocionante Saga em Busca da Piada Perfeita

"As Páginas do Díário" surgiram meio por acaso, da união de minha paixão por escrever com a necessidade de responder a meus vários muitos amigos a eterna pergunta que não raro pululava em minha mailbox: "onde é que você tá, mulher?"
Pra não responder um por um, os relatos das viagens foram iniciados, e enviados para uma lista de amigos. Um interessante efeito bola-de-neve começou, com amigos mandando os textos para outros amigos, e a lista foi aumentando. Com tanta gente que nem me conhece querendo ler as besteiras que escrevo, só posso concluir uma coisa: como tem gente boba neste mundo! ! !
Para não correr o risco de perder os textos, resolvi colocar tudo na net, para referências futuras, que não serão aceitas como prova por nenhum juiz.
Claro que isto não significa que vou deixar de mandar as páginas do diário por email para meus diletos, seletos, concretos e infelizes leitores!

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