Um dia de verão em Aberdeen. Minha amiga americana e eu, duas marginais globalizadas, demos uma linda corcova no trabalho, saída pela direita, leão da montanha. Colocamos nossos biquinis e nos escarapichamos na praia.
Ali estávamos, ungidas em protetor solar, falando todas as bobagens com que sempre brindamos uma a outra, quando vejo caminhar pela areia um sujeito ímpar: shorts negros, camiseta negra, luvas negras, meias e botas negras.
Olho para Steph e pergunto: “what’s that fuckin’ porra?”. Ela faz sua cara habitual de “não tenho a mais vaga noção”. Ok, beleza.
O cara párou em frente a nós. Olhou prum lado, pro outro, e veio falar comigo: “você se importa se eu sentar com vocês?”
“Sim, me importo”, respondo sisuda. E ele sentou.
Ai puta que pariu, falei. Steph, que já está sabendo as expressões básicas em português, já riu. Ok. Voltamos a conversar.
Mas o maluco queria fazer amizade. Perguntou de onde eu era. Falei um “Brasil” entre dentes, pra ver se o cara sacava que eu não tinha a menor intenção de socializar. Virei o rosto pra Steph e segui conversando unilateralmente. Steph estava rindo mais, e eu não sabia do que.
Descobri quando o sujeito perguntou o que eu estava fazendo no Reino Juntinho. Eu viro pro cara e... bem, ele tinha tirado os shorts (segundo me conta a americana depois, ele ficou nu, se trocando ali na praia na maior. Graças à Deusa, essa eu perdi) e colocado sua sunguinha, negra, óbvio – e a parte da frente, mínima. Com tufos ruivos, praticamente uma floresta amazônica em sépia, saindo pelos lados!
Foi demais pra mim, segurando o vômito e sem responder absolutamente nada ao cara, virei pra Steph e disse q ia nadar. Quem sabe assim ‘Señor Creepy’, como nós carinhosamente o chamamos agora, entenderia seu status de persona non gratta’.
Quando piso na água escuto o cara vir trotando igual um cavalo para mergulhar comigo! Párei, estática, ele passou e deu aquele salto magnífico, mistura de sapo sentindo cãimbras com albatroz pousando – e eu vejo que sua sunga por trás é um fio dental!
Viro-me rapidamente e vejo que minha amiga está com a cara afundada na toalha, rindo horrores. Cato minhas coisas e sento do outro lado. Eu sinto que fiz algum mal à Deusa do Amor, e estou sendo duramente castigada com este maldito magnetismo pra psicóticos!
Pausa para almoço em restaurante mexicano, já que eu sigo uma dieta balanceada onde figuram os 5 principais grupos alimentares: verduras, frutas, fibras, laticínios e tequila golden. Os pratos vegie têm todos um lagartinho verde ao lado de seus nomes no cardápio, facilitando muito minha vida. Escolho as fiestafajitas – prato que, caso a pessoa seja fake vegie, pode ser acrescido de frango por apenas uma libra. O que significa que eu estava além de tudo economizando essa libra. Show.
O prato vem. Primeiro pedaço e... caralho, isso aqui é frango!
Chamo o tio da bandeja, falo que o prato veio errado. Ele me diz que entendeu que eu havia pedido fiestafajitas. Beleza, isso aí, eu PEDI. Fiestafajitas É com frango, diz o cidadão.
- Aaaaaaaaaaaaaaah, né não. Traz o menu aí.
Ele não traz, mas diz que vai trocar o prato. Ok, espero. E, quando traz, ele me diz que, por cortesia da casa, eu não teria que pagar pelas outras fajitas.
Poupei seus fracos neurônios aberdonianos não lhe dizendo que seria mais fácil ver Bento XVI dando a bunda na Praça São Pedro que eu pagando por algo que não pedi!
Jaqueline Costa
É veggie que não come carne
3 comentários:
“what’s that fuckin’ porra?
Amei!!!E tb to rindo horrores...
Jaque, será q antes de viajar para
a Europa, vc deixou de pagar alguma
promessa aqui no Brasil.
Cacao: essa eh uma que eu uso desde aquela longincua viagem aos EUA...
Ze: agora que vc comentou, tenho duas promessas atrasadas. Mas JURO q nao eh minha culpa - pelo menos, nao totalmente. Minha familia faz promessa pro santo dizendo q EU vou pagar - e nem catolica eu sou!
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